Ritual do Santuário

 

OFERTAS PELO PECADO

P

ecado e oferta pelo pecado têm o mesmo nome em hebraico. A oferta pelo pecado estava com ele tão intimamente ligada, que o nome se tornou o mesmo. Quando Oséias diz dos sacerdotes: "Alimentam-se do pecado do Meu povo", aquela mesma palavra, chattaht, é empregada, como ocorre em outras partes, por "oferta pelo pecado". Oséias 4:8.

As ofertas pelo pecado são primeiramente mencionadas em relação com o ato de Arão e seus filhos serem consagrados. Êxodos 29:13. Não são, entretanto, mencionadas como qualquer coisa nova. Pode-se assim acreditar que as ofertas pelo pecado já existiam naquela ocasião.

Convém notar que as ofertas pelo pecado só bastava para pecados cometidos por ignorância. Lev. 4:2, 13, 22 e 27. Diziam respeito a pecados cometidos por erro, engano, ou atos precipitados, de que o pecador não estava advertido na ocasião, mas de que mais tarde teve conhecimento. Não providenciavam quanto a pecados cometidos conscientemente, com conhecimento e persistência. Quando Israel pecava deliberadamente, como no adorar o bezerro de ouro, e recusar desafiadoramente a misericórdia de Deus quando Moisés os chamou ao arrependimento, sobrevinha o castigo. "E caí­ram do povo naquele dia uns três mil homens". Êxodo 32:28.

Quando ao pecado consciente ou presunçoso, a lei reza: "Porém o que comete algum pecado por soberba, ou ele seja cidadão ou forasteiro (porque foi rebelde contra o Senhor), perecerá do meio do seu povo: pois que desprezou a palavra do Senhor, e tornou vão o Seu preceito: por isso mesmo será exterminado, e levará sobre si a sua iniqüidade". Números 15:30 e 31. (Trad. Figueiredo). Há algumas exceções a essa lei, entretanto, as quais serão consideradas mais adiante.

O capí­tulo quatro de Leví­ticos discute o assunto das ofertas pelo pecado. Mencionam-se quatro classes de ofensores: O sacerdote ungido (vers. 3-12), toda a congregação (vers. 13 e 21), o prí­ncipe (vers. 22-26), um do povo comum (vers. 27-35).

 

Os sacrifí­cios exigidos não eram os mesmos em todos os casos, nem se dispunha do sangue pela mesma maneira. Se o sacerdote ungido pecava "fazendo pecar ao povo", devia trazer "ao Senhor pelo seu pecado um novilho sem defeito". Lev. 4:3. Se toda a congregação de Israel pecasse por ignorância, também deviam oferecer "pelo seu pecado um novilho", e o trariam "a porta do tabernáculo". Vers 14.Se um dos prí­ncipes pecava, devia trazer "um bode tirado dentre as cabras, que não tenha defeito". Vers. 3. Se um do povo pecava por ignorância, devia trazer "uma cabra sem defeito". Vers. 28. No caso de não poder apresentar uma cabra, podia levar uma cordeira. Vers. 32.

Em todos esses casos o pecador tinha de prover a oferta, colocar a mão sobre a cabeça do animal, e mata-lo. Quando toda a congregação pecava, devia prover a oferta, e os anciãos tinham de pôr as mãos sobre a cabeça do novilho.

Na maneira de dispor o sangue, havia uma diferença que deve ser observada. Quando o sacerdote ungido pecava e levava seu novilho e o matava, devia molhar "seu dedo no sangue, e daquele sangue espargirá sete vezes perante o Senhor, diante do véu do santuário". Vers. 6. Devia também pôr "daquele sangue sobre as pontas do altar de incenso aromático, perante o Senhor, que está na tenda da congregação: e todo o resto do sangue do novilho derramará à base do altar do holocausto, que está à porta da tenda da congregação". Vers. 7.

Esta instrução é especí­fica. Ao ser morto o novilho, o sacerdote colhia o sangue, e parte dele era levado para o interior do primeiro compartimento do santuário. Ali o sangue era espargido sete vezes perante o Senhor, diante do véu do santuário e também posto nas pontas do altar do incenso aromático que estava no primeiro compartimento. O resto do sangue era derramado à base do altar do holocausto, que estava no pátio.

Quando toda a congregação pecava, o sangue era disposto da mesma maneira. Parte dele era levado ao primeiro compartimento do santuário, e espargido perante o véu. As pontas do altar de incenso eram tocadas pelo sangue, e o resto deste, derramado à base do holocausto, no pátio. Vers. 18.

 

Quando um prí­ncipe pecava, o sangue era disposto diversamente. Reza o registro: "O sacerdote com o seu dedo tomará do sangue da expiação, e o porá sobre as pontas do altar do holocausto: então o resto do seu sangue derramará à base do altar do holocausto". Vers. 25. Neste caso, o sangue não era levado para o interior do santuário e espargido perante o véu. Era posto nas pontas do altar do holocausto, no pátio, e o resto derramado à base do mesmo altar.

O mesmo se fazia com o sangue quando pecava uma pessoa comum. O sangue era posto sobre as pontas do altar do holocausto, e o resto derramado à base do altar. Vers. 30 e 34.

Em cada um desses casos, a gordura era removida do cadáver e queimada sobre o altar do holocausto. Vers. 8-10, 19, 26, 31 e 35. O corpo do animal, entretanto, era diversamente tratado nos diferentes casos. Se o sacerdote ungido pecava, o "couro do novilho, e toda a sua carne, com a sua cabeça e as suas pernas, e as suas entranhas, e o seu esterco, todo aquele novilho" "levará fora do arraial a um lugar limpo, onde se lança a cinza, e o queimará com fogo sobre a lenha: onde se lança a cinza se queimará". Vers. 11 e 12. O mesmo devia ser feito com o cadáver do novilho apresentado como oferta pelo pecado de toda a congregação. O corpo era levado para fora do acampamento, a um lugar limpo, e ali queimado com fogo sobre a lenha. Vers. 21.

Não há, no capí­tulo em consideração, instruções quanto ao que era feito com o corpo do animal quando um prí­ncipe ou uma pessoa comum pecava. No capí­tulo 6 de Leví­tico, entretanto, na "lei da expiação do pecado", encontram-se mais instruções. "No lugar em que se degola o holocausto se degolará a expiação do pecado perante o Senhor; coisa santí­ssima é. O sacerdote que a oferecer pelo pecado a comerá: no lugar santo se comerá, no pátio da tenda da congregação". Lev. 6:25 e 26. Esta declaração elucida o assunto. O sacerdote que oferecia a expiação pelo pecado, devia comê-la. Devia come-la num lugar santo, no pátio da tenda da congregação. O vers. 29 declara: "Todo o varão entre os sacerdotes a comerá: coisa santí­ssima é". Há entretanto uma exceção a isto: "Porém nenhuma expiação de pecado, cujo sangue se traz à tenda da congregação, para expiar no santuário, se comerá; será queimada no fogo". Vers. 30.

 

Lembrar-se-á que, quando o sacerdote ungido ou toda a congregação pecava, o sangue era levado para o primeiro compartimento do santuário, e aí­ espargido perante o véu. Parte do sangue também era posta nas pontas do altar do incenso, no lugar santo. Nestes casos o sangue era levado para o tabernáculo da congregação no lugar santo. A esses dois casos, portanto, se faz referência na declaração: "Nenhuma expiação de pecado, cujo sangue se traz à tenda da congregação, para expiar no santuário, se comerá; no fogo será queimada". Quando o sacerdote ungido e toda a congregação pecava, o sangue era levado para o lugar santo; a carne não era comida, mas o corpo era levado para fora do arraial e queimado.

Quando um prí­ncipe ou uma pessoa do povo pecava, o sangue era posto sobre as pontas do altar do holocausto, e o resto derramado à base do altar. A carne não era queimada no altar, nem levada para fora do acampamento para ser queimada como no caso do novilho. Era dada aos sacerdotes para ser comida num lugar santo.

Que isso não era um mandamento arbitrário sem qualquer significação especial, evidencia-se de um incidente registrado no décimo capí­tulo de Levitico. Os versí­culos 16 e 18, rezam: "Moisés diligentemente buscou o bode da expiação, e eis que já era queimado: portanto indignou-se grandemente contra Eleazar e contra Itamar, os filhos que de Arão ficaram, dizendo: Por que não comestes a expiação do pecado no lugar santo? Pois uma coisa santí­ssima é: e o Senhor a deu a vós, para que levásseis a iniqüidade da congregação, para fazer expiação por eles diante do Senhor. Eis que não se trouxe o seu sangue para dentro do santuário; certamente haví­eis de comê-la no santuário, como tinha ordenado".

O leitor se lembrará de que, quando se usava um novilho como expiação pelo pecado " como no caso do sacerdote ungido ou de toda a congregação " o corpo era levado para fora do acampamento e queimado. O mesmo não se dava no entanto no caso do bode e do cordeiro. Quando um prí­ncipe ou uma pessoa comum pecava, o sangue não era levado para o santuário, mas a carne era comida pelos sacerdotes. Os versí­culos citados acima dão a razão disto:

 

"O Senhor a deu (a carne) a vós para que levásseis a iniqüidade da congregação, para fazer expiação por eles diante do Senhor".

Segundo isto, os sacerdotes, por comerem a carne, tomavam sobre si a iniqüidade da congregação; isto é, levavam os pecados do povo. A razão dada para comerem a carne, é esta:" Não se trouxe o seu sangue para dentro do santuário; certamente haví­eis de come-la no santuário, como tinha ordenado". Quando o sangue era levado para o primeiro compartimento, não era necessário comer a carne. Mas, se o sangue não era levado para o santuário, os sacerdotes deviam comer a carne e, comendo-a, levar a iniqüidade da congregação. Os pecados eram assim transferidos do povo para o sacerdócio.

Alguns têm tido dúvidas quanto à transferência do pecado para o santuário por meio do sangue, o quanto a ser possí­vel a alguém levar os pecados do outro. O caso que está diante de nós é concludente. Ou o sangue deve ser levado para o santuário e aí­ espargido perante o véu, ou a carne deve ser comida. "O Senhor a deu a vós, para que levásseis a iniqüidade da congregação para fazer expiação por eles diante do Senhor". Ao comerem a carne, os sacerdotes tomavam sobre si os pecados que, pela imposição das mãos e a confissão haviam sido transferidos do pecador para o animal. O comer a carne não era necessário nos casos em que o sangue fora levado ao santuário. Em tais casos dispunha-se efetivamente dos pecados levando o sangue para o santuário, e espargindo-o perante o véu. O corpo era levado fora do acampamento, a um lugar limpo, e aí­ queimado.

A seqüência deste incidente, segundo se acha registrada nos versí­culos 19 e 20 do capí­tulo 10, também é interessante. Arão, Eleazar e Itamar não haviam comido da carne da oferta pelo pecado, ou expiação como deveriam ter feito. Arão explicou sua falta dizendo que lhe sobreviera uma calamidade. Dois de seus filhos, enquanto sob a influência do vinho, haviam sido mortos perante o Senhor, como está relatado na primeira parte do capí­tulo 10. Arão e os outros dois filhos que restaram, ao que parece, não se achavam inteiramente sem culpa. Conquanto talvez não houvessem participado do vinho, estavam provavelmente perplexos quanto à justiça do juí­zo que viera sobre seus irmãos e companheiros de sacerdócio.

 

Em tais condições, não sentiam poder tomar sobre si as iniqüidades de outrem. Tinham bastante em carregar a própria. Foi com isto em mente, que Arão perguntou: "Se eu hoje comera a expiação do pecado, seria pois aceito aos olhos do Senhor?" "E Moisés ouvindo isto, foi aceito ao seus olhos". Vers. 19 e 20. Daí­ podemos com razão concluir que Deus não esperava que os sacerdotes comessem a expiação pelo pecado, levando assim os pecados do povo, a menos que eles próprios estivessem limpos. "Purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor".

Como foi observado acima, no estudo crí­tico que nos anos posteriores se tem feito de muitas partes da Bí­blia, têm-se lançado dúvidas quanto à questão da transferência do pecado. Embora seja claro que, em cada um dos casos o pecador tinha de pôr a mão sobre o sacrifí­cio, é negado que isto significasse confissão ou transferência de pecado. Deve-se admitir, entretanto, que alguma coisa acontecia ao homem que levava sua oferta pelo pecado. Em cada um dos casos mencionados no quarto capí­tulo de Leví­tico, com exceção do sacerdote ungido, é dito que a expiação era feita, e que o pecado "lhes será perdoado". Lev. 4:20, 26, 31 e 35. O homem era perdoado de seu pecado e ia embora livre.

Não era só ao homem, no entanto, que acontecia alguma coisa. De algum modo os sacerdotes vinham a levar sobre si os pecados que o homem carregava antes. Ele pecara. Confessara seu pecado e fora perdoado. Mas agora os sacerdotes levavam o pecado. Como se efetuava essa transferência? Parece clara a conclusão. O homem, o pecador, pusera a mão sobre o inocente animal, confessara o pecado e assim, em figura, transferira o mesmo para o animal. Sendo pecador, ou pelo menos fazendo-se portador do pecado, o animal era morto. O sacerdote, ao comer a carne, tomava sobre si carne pecaminosa, e assim levava a "iniqüidade da congregação".

Que a culpa era transferida no Dia da Expiação, é positivamente declarado. "Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados: e os porá sobre a cabeça do bode, e envia-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso". Lev. 16:21.

 

 

 

Aqui se declara de maneira definida que Arão deve pôr as mãos sobre a cabeça do bode, que deve confessar sobre ele os pecados dos filhos de Israel, e que porá esses pecados sobre a cabeça do bode. Não podemos crer que esta é exatamente a significação no caso expiação do pecado no quarto capí­tulo de Leví­tico? Que, de qualquer maneira, os sacerdotes vieram a levar a iniqüidade da congregação, é claro. A declaração a esse respeito é muito positiva. é também asseverado que era mediante o comer da carne que eles tomavam sobre si o pecado. Este pecado, naturalmente, não era o do animal, mas do pecador que trouxera sua expiação pela culpa, a fim de obter o perdão. O argumento parece completo. Originalmente, o pecador levava seus pecados. Agora, os sacerdotes os levam. Receberam-nos comendo a carne do animal. Sustentamos portanto que a Bí­blia ensina a doutrina da transferência do pecado.

O colocar das mãos, por parte do pecador, sobre a expiação, tinha indubitavelmente significação mais ampla, especialmente no caso das ofertas queimadas e das ofertas pací­ficas. Depois de o pecador haver confessado e ter sido perdoado, entrava em comunhão com Deus. Uma clara compreensão desta verdade é essencial para se entenderem os sacrifí­cios envolvidos.

As ofertas pelo pecado eram usadas em outros casos além dos já mencionados no quarto capí­tulo de Leví­tico. Um exemplo disso é a consagração de Arão e seus filhos, segundo se acha registrado no capí­tulo oito de Leví­tico. Convém notar-se aqui, entretanto, que é Moisés que realiza a cerimônia, e não o sacerdote. Arão e seus filhos, na verdade, põem as mãos sobre a cabeça do novilho destinado à expiação do pecado, e o matam, mas é Moisés que administra o sangue e o põe sobre as pontas do altar em redor. Deve-se notar também que neste caso, em vez de contaminar o altar, o sangue o purifica. "Moisés tomou o sangue, e pôs dele com o seu dedo sobre as pontas do altar em redor, e expiou o altar; depois derramou o resto do sangue à base do altar, e o santificou, para fazer expiação por ele". Lev. 8:15.

Ao cabo dos sete dias de consagração de Arão, foi ordenada uma oferta pelo pecado.

 

Arão devia tomar um bezerro para expiação pelo pecado por si mesmo antes de começar seu ministério pelo povo. "Então Arão se chegou ao altar, e degolou o bezerro da expiação que era por ele. E os filhos de Arão trouxeram-lhe o sangue, e molhou o seu dedo no sangue, e o pôs sobre as pontas do altar; e o resto do sangue derramou à base do altar". Lev. 9:8 e 9. "Porém a carne e o couro queimou com fogo fora do arraial". Lev. 9:11.

Havia outras ocasiões em que eram requeridas ofertas pelo pecado. Depois do parto, um pombinho ou uma rola para expiação do pecado. Lev. 12:6-8. Em casos de contaminação, o nazireu devia oferecer uma rola, ou um pombinho por expiação do pecado. Num. 6:10. Também, quando os dias de separação estavam cumpridos, o nazireu devia trazer um cordeiro de um ano, sem defeito, para expiação do pecado. Vers. 14. Na consagração e purificação dos levitas, um novilho era requerido como expiação do pecado. Num. 8:8 e 12. Uma expiação pelo pecado era exigida por ocasião da festa da lua nova (Num. 28:15), pela páscoa (vers 22), pelo pentecostes (vers. 30), no primeiro dia do sétimo mês (Num. 29:5), no décimo, décimo-quinto e vigésimo segundo dias também. Vers. 10-38.

A cerimônia da bezerra ruiva merece especial consideração. Difere a muitos respeitos da oferta regular pelo pecado; serve todavia ao mesmo desí­gnio. Num. 19:9, diz: "Expiação é". A palavra aí­ usada é a mesma que em outras partes para a expiação do pecado. Incluí­mos, portanto, a bezerra ruiva entre as ofertas pelo pecado ordenadas por Deus.

Israel era ordenado a trazer uma bezerra ruiva, sem defeito e sem mancha, e dá-la ao sacerdote Eleazar. Num. 19:2 e 3. O sacerdote tinha de levar a bezerra fora do acampamento, onde alguém a degolaria em sua presença. O sacerdote devia tomar então o sangue com o dedo, espargindo-o para a frente da tenda da congregação sete vezes. Vers. 4. Depois disto, alguém devia queimar a bezerra perante Eleazar, "o seu couro, e a sua carne, e o seu sangue, com o seu esterco se queimará". Vers. 5. Enquanto a bezerra estava assim sendo consumida, o sacerdote devia tomar "pau de cedro, e hissopo, e carmezim", e os lançar "no meio do incêndio da bezerra". Vers. 6. Depois o sacerdote devia lavar as vestes, banhar-se e volver ao acampamento, e seria imundo até à tarde. Vers. 7.

 

 

 

Depois disto um homem que estivesse limpo devia ajuntar a cinza da bezerra, pondo-a fora do arraial, num lugar limpo. Serviria para a "água da separação: expiação é". Vers. 9.

As cinzas assim guardadas deviam ser usadas em certas espécies de contaminação, como o tocar num corpo morto. Nesse caso, a cinza devia ser tomada, e sobre ela poriam "água viva num vaso; e um homem limpo tomará hissopo, e molhará naquela água, e a espargirá sobre aquela tenda, e sobre todo o fato, e sobre as almas que ali estiveram: como também sobre aquele que tocar os ossos, ou a algum que foi morto, ou que faleceu, ou uma sepultura. E o limpo ao terceiro e sétimo dia espargirá sobre o imundo: e ao sétimo dia o purificará; e lavará os seus vestidos, e se banhará na água, e à tarde será limpo". Num. 19:17-19.

Observar-se-á que, ao passo que esta cerimônia era uma "expiação" pelo pecado, sangue algum, nesse caráter, era empregado na purificação do homem de sua contaminação. A única vez que o sangue é mencionado, é por ocasião de ser morta a bezerra, quando os sacerdotes tomaram o sangue e o espargiram sete vezes diante do altar da congregação. Vers. 4. Na aplicação à pessoa, individualmente, no entanto, não havia nenhuma aspersão de sangue.

Também se deve observar que a bezerra não era morta dentro dos limites do pátio da tenda, onde se matavam os outros sacrifí­cios. O sangue não era levado para o interior do santuário, não era aspergido perante o véu, não era posto nas pontas do altar do incenso, nem nas pontas do altar do holocausto, nem era derramado à base do mesmo; não entrava em contato direto com o santuário nem com o altar do holocausto.

No ritual da purificação, era exigido que uma pessoa limpa oficiasse. Outro ponto é que essa purificação aproveitava não somente os filhos de Israel, mas também ao estrangeiro. "Isto será por estatuto perpétuo aos filhos de Israel e ao estrangeiro que peregrina no meio deles". Vers. 10.

Convém notar a declaração registrada em Números 19:13, de que o tabernáculo ficaria contaminado se um homem não se purificasse. "Todo aquele que tocar a algum morto, cadáver de algum homem que estiver morto, e não se purificar, contamina o tabernáculo do Senhor".

 

"Porém o que for imundo, e se não purificar, a tal alma do meio da congregação será extirpada; porquanto contaminou o santuário do Senhor: água de separação sobre ele não foi espargida; imundo é". Num. 19:13 e 20. Que o santuário era contaminado pela confissão do pecado e pela aspersão do sangue, é por todos aceito. Aqui se faz a declaração de que um homem que não se purifica, que não confessa seu pecado, contamina o santuário do Senhor. A importância doutrinária desta declaração, não deve ser passada por alto.

A cerimônia ocasional da bezerra ruiva tem profunda significação para o reverente estudioso da palavra de Deus. A purificação do pecado é aí­ realizada pelo uso de água em que se punha cinza da bezerra morta. Essa purificação é para o estrangeiro da mesma maneira que para os filhos de Israel. Sua ministração é fora do acampamento, à parte do culto ordinário de Jeová, e não está diretamente ligada com a rotina usual do serviço do santuário.

é a esta cerimônia que o autor da epí­stola aos hebreus se refere, quando diz: "Porque se o sangue de touros e bodes, e a cinza duma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espí­rito eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?" Heb. 9:13 e 14. A oração de Davi, é: "Purifica-me com hissope, e ficarei puro: lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve". Salmo 51:7.

Uso de água um tanto semelhante a este, para fins de purificação, é mencionado no capí­tulo cinco do livro de Números. No caso de certos pecados, "o sacerdote tomará água santa num vaso de barro; também tomará o sacerdote do pó que houver no chão do tabernáculo, e o deitará na água". Vers. 17. A "água santa" assim preparada é chamada "água amarga" nos versos 18, 19 e 23. Conquanto não seja necessário entrar em detalhes a respeito da aflitiva cerimônia mencionada neste capí­tulo, chamamos a atenção para o versí­culo vinte e três. O sacerdote devia escrever estas maldições num livro, e depois, "com a água amarga as apagará".

Ao passo que o sangue é mencionado no Velho Testamento como a purificação do pecado, a água é mencionada da mesma maneira.

 

A pia situada mesmo diante do tabernáculo; a água usada na cerimônia da bezerra ruiva; a água amarga usada para apagar o pecado segundo se registra no capí­tulo 5 de Números, testificam do emprego da água para purificação cerimonial. Está escrito a respeito de Cristo; "Este é aquele que veio por água e por sangue, isto é, Jesus Cristo: não só por água, mas por água e por sangue". I João 5:6. Na crucifixão, "um dos soldados Lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. E aquele que o viu testificou, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade o que diz, para que também vós o creiais". João 19:34 e 35. A água batismal, a preciosa ordenança da humildade, ainda nos salva"... não do despojamento da imundí­cia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus". I Pedro 3:21.

 

OFERTAS PACÍFICAS

A

palavra hebraica traduzida por "oferta pací­fica" vem de raiz de uma palavra que significa "completar, suprir o que está faltando, pagar uma recompensa". Denota um estado em que os mal-entendidos foram esclarecidos e os erros, corrigidos, e em que prevalecem os bons sentimentos. As ofertas pací­ficas eram suadas em qualquer ocasião que apelasse à gratidão e regozijo, e também para fazer um voto. Eram ofertas de cheiro suave, como holocausto de manjares. Eram uma expressão, da parte do ofertante, de sua paz com Deus e gratidão a Ele por Suas muitas bênçãos.

Ao escolher uma oferta pací­fica, o ofertante não era limitado na escolha. Podia usar um bezerro, uma ovelha, um cordeiro ou uma cabra, macho ou fêmea. Comumente, o sacrifí­cio tinha de ser "sem mancha". Lev. 22:21; 3:1-17. Quando, porém, a oferta pací­fica era apresentada como oferta voluntária, não precisava ser perfeita. Podia ser usada mesmo que fosse "boi, ou gado miúdo, comprido ou curto de membros". Lev. 22:23. Como no caso do holocausto, o ofertante devia pôr as mãos sobre a cabeça do sacrifí­cio e degola-lo à porta do tabernáculo. O sangue era então espargido sobre o altar, em roda, pelo sacerdote. Lev. 3:2. Depois, a gordura era queimada: "Manjar é da oferta queimada ao Senhor". Vers. 11. "Toda a gordura será do Senhor. Estatuto perpétuo será nas vossas gerações, em todas as vossas habitações: nenhuma gordura nem sangue algum comereis". Vers. 16 e 17.

As ofertas pací­ficas eram de três espécies: ofertas de gratidão, ofertas por um voto e ofertas voluntárias. Dessas, a oferta de gratidão ou de louvor era a que mais se destacava. Oferecia-se em ocasiões de regozijo, de gratidão por algum livramento especial, ou bênção recebida. Era oferecida de um coração cheio de louvor a Deus e transbordante de alegria.

As ofertas por pecados e ofensas suplicavam favores a Deus.

 

Rogavam o perdão. As ofertas queimadas eram oferecidas como dedicação e consagração da parte do ofertante. Nas ofertas de manjares, a pessoa reconhecia sua dependência de Deus, em todas as necessidades temporais, e sua aceitação da responsabilidade da mordomia. As ofertas pací­ficas eram de louvor por graças recebidas, ofertas de gratidão pelas bênçãos desfrutadas, ofertas voluntárias, de um coração transbordante. Não suplicavam nenhum favor; tributavam louvor a Deus pelo que Ele havia feito, e exaltavam o Seu nome por Sua bondade e misericórdia para com os filhos dos homens.

As ofertas do Antigo Testamento incluí­am orações. Combinavam a fé e as obras, a oração e a fé. Em sua totalidade, expressavam a completa relação do homem para com Deus e sua necessidade dEle. As ofertas pací­ficas eram ofertas de comunhão. Os holocaustos eram totalmente queimados sobre o altar; as ofertas pelo pecado, ou eram queimadas fora do arraial ou comidas pelo sacerdote, mas as ofertas pací­ficas não eram simplesmente divididas entre Deus e o sacerdote; uma parte, a maior, era dada ao ofertante e sua famí­lia. A parte de Deus era queimada sobre o altar. Lev. 3:14-17. O sacerdote recebia o peito movido e a espádua alçada. Lev.7:33 e 34. O resto pertencia ao ofertante, que podia convidar a qualquer pessoa purificada para com ele participar disso. Podia ser comido no mesmo dia, ou, em alguns casos, no dia seguinte, mas não mais tarde. Lev. 7:16-21.

Os bolos asmos amassados com azeite, e fritos, eram parte das ofertas. A isso se acrescentava pão levedado. Uma parte era apresentada ao Senhor, como oferta alçada, e depois dada ao sacerdote, como sua porção. Lev. 7:11-13.

Toda a cerimônia constituí­a uma espécie de serviço de comunhão, em que o sacerdote e o povo participavam, com o Senhor, da Sua mesa; uma ocasião de regozijo, em que todos se uniam em gratidão e louvor a Deus, por Sua misericórdia.

é significativo o uso de fermento na oferta pací­fica. Em geral, o fermento não era permitido em qualquer sacrifí­cio. Numa ocasião em que ele era usado " na oferta de manjares das primí­cias (Lev. 2:12) " não era permitido que subisse ao altar. Nessa ocasião, era apresentado ao Senhor como oferta alçada e depois dado ao sacerdote que havia espargido o sangue. Lev. 7:13 e 14.

 

No caso da oferta de manjares das primí­cias o fermento representava o homem levando a Deus sua oferta pela primeira colheita. Devia ofertar conforme o que possuí­a. Mas devia faze-lo somente uma vez. Na oferta pací­fica, o pão levedado e o não levedado são ordenados. Não pode ser que, como isso é um manjar comum, de que Deus, o sacerdote e o ofertante participam, o pão não levedado represente Aquele que é sem pecado e é nossa paz, e que o fermento represente a imperfeição do homem, que e, não obstante, aceito por Deus? Efés. 2:13. A isso é feita referência em Amós 4:5.

"A carne do sacrifí­cio de louvores da sua oferta pací­fica se comerá no dia do seu oferecimento". Lev. 7:15. Conquanto isto fosse, em parte, uma medida higiênica, não era esta a única razão; pois nos casos em que a oferta pací­fica era um voto ou um a oferta voluntária, também podia ser comida no dia seguinte. Vers. 16. Era manifestamente impossí­vel a um homem consumir sua oferta, caso esta fosse um novilho ou um bode, ou um cordeiro, em um dia só. Era-lhe portanto permitido, e mesmo ordenado pedir a outros que compartilhassem da refeição. "Nas tuas portas não poderás comer... nenhum dos teus votos, que houveres votado, nem as tuas ofertas voluntárias, nem a oferta alçada da tua mão; mas o comerás perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher o Senhor teu Deus, tu, e teu filho, e a tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o levita que está dentro das tuas portas: perante o Senhor teu Deus te alegrarás em tudo em que puseres a tua mão. Guarda-te, que não desampares ao levita todos os teus dias na terra". Deut. 12:17-19.

Este era um traço que distinguia a oferta pací­fica. Devia ser comida no mesmo dia, e ser compartilhada; devia ser comida "perante o Senhor", e "te alegrarás". Era uma refeição de regozijo, em comum, e a esse respeito diferia de todas as outras ofertas.

Por vezes as ofertas pací­ficas eram ofertas votivas. Por uma ou por outra razão, talvez por alguma bênção especial desejada, o ofertante fazia um voto ao Senhor. Ele podia consagrar-se a si mesmo a Deus, ou a esposa ou os filhos, ou gado, casa, terras. Lev. 27. Foi assim que Samuel foi consagrado ao Senhor. I Sam.1:11.

 

No caso de pessoas, um voto podia ser resgatado mediante determinada avaliação, ajustada pelos sacerdotes no caso de pessoas muito pobres. Lev. 27:1-8. Se o voto dizia respeito a algum dos animais apropriados para sacrifí­cio, não podia ser resgatado. Caso um homem tentasse trocá-lo por outro, ambos os animais deviam ser ofertados. Vers. 9 e 10. Em caso de ser um animal imundo, o sacerdote devia fazer a avaliação do mesmo. Podia ser resgatado, acrescentando-se um quinto ao valor calculado. Vers. 11-13.

Três coisas se mencionam como não estando sujeitas à lei do voto: todos os primogênitos (vers. 26 e 27); qualquer coisa consagrada a Deus (vers. 28 e 29); o dí­zimo (vers. 30-34). Estas, como já pertencentes a Deus, não podiam ser votadas.

Há pessoas que não olham com agrado os votos. Todavia Deus providenciou quanto a eles. Conquanto seja melhor não votar, do que faze-lo e não pagar. (Ecles. 5:5), os votos são í s vezes justos e aceitáveis diante de Deus. "Abstendo-te de votas, não haverá pecado em ti". (Deut. 23:22); mas se uma pessoa faz um voto, "não tardará em pagá-lo". Vers. 21. O fazer um voto é coisa optativa. O homem pode ou não fazer um voto, mas se o faz, "não violará a sua palavra: segundo tudo o que saiu da sua boca, fará". Num. 30:2.

Deus quer que seu povo seja honesto e digno de confiança. Quer que cumpra suas promessas. Homem algum está cumprindo seus deveres cristãos se não se puder confiar nele nas transações comerciais. Homem algum pode violar sua palavra e reter o favor de Deus. Ninguém pode "se esquecer" de pagar suas contas " ou mesmo ser negligente a esse respeito, e ser reputado honesto aos olhos do céu. O cristão mais que todos, deve ser um homem de palavra. Não precisa apenas ser reto; deve ser pontual.

Na época em que vivemos, muitos consideram sua palavra como de pouca monta, e pouco respeito têm por seus compromissos. Conquanto se possa esperar isto do mundo, não pode haver desculpa quanto a qualquer que usa o nome de Cristo em repudiar sua promessa.

 

Todavia, quantos compromissos por pagar existem, quantos votos violados! São violados os votos matrimoniais; quebra-se o voto batismal; o voto da ordenação se viola. Concertos são repudiados, acordos desrespeitados, esquecidos compromissos. O violar a fé é comum, a desconsideração da responsabilidade, quase geral. O próprio Cristo cogitava se encontraria fé na terra quando voltasse. Lucas 18:8. Em meio de toda essa confusão, deve haver um povo em quem Deus possa confiar, em cuja boca não se encontre engano, fiel à sua palavra. A pergunta feita em Salmo 15, é também aí­ respondida. Pergunta: "Senhor, quem habitará no Teu tabernáculo? Quem morará no Teu santo monte?". A resposta: "Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente, segundo o seu coração. Aquele que não difama com a sua lí­ngua, nem faz mal a seu próximo, nem aceita nenhuma afronta contra seu próximo; aquele a cujos olhos o réprobo é desprezado; mas honra os que temem ao Senhor; aquele que, mesmo que jure com dano seu, não muda. Aquele que não empresta o seu dinheiro com usura, nem recebe peitas contra o inocente; quem faz isto nunca será abalado".

Uma das condições aqui mencionadas para habitar no tabernáculo de Deus, é jurar "com dano seu" e não mudar. Um homem pode combinar vender ou comprar alguma propriedade, e, depois de feito o acordo, receber uma oferta mais vantajosa. Ficará firme no negócio mesmo com prejuí­zo seu? Fa-lo-á, se é cristão.

Respeito pela própria palavra, eis uma clamorosa necessidade. Dela necessitam as nações, para que seus acordos não fiquem sem significação. Os negociantes dela precisam, para que não venham em resultado confusão e ruí­na. Os indiví­duos têm dela necessidade para que não pereça na terra a fé. Acima de tudo, os cristãos precisam dela, para que não percam os homens sua visão e esperança, e o desespero se apodere da humanidade.

Esta é a hora e oportunidade supremas da igreja. O mundo é credor de uma demonstração de que há um povo que permanece fiel em meio de uma infiel geração; que respeita própria palavra, bem como respeita a palavra de Deus; que é fiel à fé uma vez entregue aos santos. Está atrasada a manifestação dos filhos de Deus. Rom. 8:19.

 

Esta revelação dos filhos de Deus, não é somente "a ardente expectação da criatura", mas "toda a criação geme e está juntamente com dores de parto" por ela. Vers. 22. E esta manifestação revelará um povo que tem o selo da aprovação de Deus. Guarda os mandamentos. Tem a fé de Jesus. Sua palavra é sim, sim, e não, não. São irrepreensí­veis diante do trono de Deus. Apoc. 14:12 e 5; Tiago 5:12.

Como antes foi declarado, a oferta pací­fica era uma oferta de comunhão em que tomavam parte Deus, o sacerdote e a pessoa. Era uma refeição em comum, tomada no recinto do templo, em que predominavam a alegria e o contentamento, e os sacerdotes e o povo entretinham conversa. Não era uma ocasião em que se efetuava a paz, antes uma festa de regozijo pela posse da mesma. Era geralmente precedida de uma oferta pelo pecado ou uma oferta queimada. Fizera-se expiação, espargira-se o sangue, o perdão havia sido concedido e assegurada a justificação. Para isto celebrar, o ofertante convidava seus parentes chegados e seus servos, bem como os levitas, para comerem com ele. "Nas tuas portas não poderás comer", era o mandamento, mas só "no lugar que escolher o Senhor teu Deus". Deut. 12:17 e18.E assim se reunia toda a famí­lia dentro das portas do templo para celebrar de maneira festiva a paz que se estabelecera entre Deus e o homem, e entre o homem e homem.

"Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo". Rom. 5:1. "Ele é a nossa paz". Efés. 2:14. O Israel de outrora era convidado a celebrar sua paz com Deus, o perdão de seus pecados, e o ser-lhes restituí­do o favor divino. Esta celebração incluí­a filho e filha, servo e serva, bem como o levita. Todos se sentavam à mesa do Senhor e se regozijavam juntos "na esperança da glória de Deus". Da mesma maneira nos devemos gloriar em "Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação". Rom. 5:2 e 11.

Poucos a apreciam ou se regozijam na paz de Deus como deviam. Embora a razão seja, em muitos casos, falta de apreciação do que Deus tem feito por elas, já muitas vezes almas queridas que deixam de compreender que lhes assiste o direito e o privilégio de se sentirem contentes em sua religião. Vivem à sombra da cruz, em lugar de viver aos seus gloriosos raios.

 

Acham que há qualquer coisa errada na felicidade, que é impróprio sorrir, e que mesmo o inocente riso é coisa sacrí­lega. Carregam aos ombros o fardo do mundo, e sentem que passar qualquer tempo numa recreação é, não somente um desperdí­cio de tempo, mas positivamente irreligioso. São bons cristãos, não são felizes, porém. Caso vivessem nos dias de Cristo e O seguissem, poriam em dúvida a conveniência de ir í s bodas de Cana da Galiléia. Ficariam mesmo perplexos por ver Cristo comer e beber com pecadores. Juntamente com os discí­pulos de João, estariam jejuando e orando. Lucas 5:29-35.

Isto é escrito com inteira consideração dos tempos em que vivemos. Se jamais houve um perí­odo em que a seriedade e a sobriedade devessem caracterizar nossa obra, este é aquele em que vivemos. Em face da crise a aproximar-se, que espécie de homens nos convém ser, em toda a santa conversação e piedade! Toda frivolidade e leviandade deve ser posta de lado, tomando a solenidade posse de todo elemento terreno. Grandes e momentosos acontecimentos aproximam-se a passos rápidos. Não é tempo de frivolidades e insignificâncias. O Rei está í s portas!

Estas condições, no entanto, não nos deviam fazer perder de vista o fato de sermos filhos do Rei, de estarem perdoados os nossos pecados, e de que temos direito a estar contentes e nos regozijar. A obra deve ser finalizada, e compre-nos ter nela uma parte; mas afinal de contas é Deus que deve concluí­-la. Muitos falam e agem como se fossem eles que devessem terminar a obra, como se tudo deles dependesse. Parecem pensar que têm a responsabilidade da obra sobre si, e que, conquanto Deus possa ajudar, a eles pertence na verdade o fazer o trabalho. Mesmo em suas orações, lembram muitas vezes a Deus do que Ele deve fazer, temerosos de que esqueça algumas coisas que têm no coração. São boas almas, ansiosas de fazer o que é justo em todo tempo, mas não aprenderam a lançar o seu cuidado sobre o Senhor. Estão fazendo tudo ao seu alcance para levar o fardo e, conquanto gemendo sob o mesmo, estão decididos a não desistir. Lutam para a frente, e estão conseguindo fazer muito. São valiosos obreiros, e o Senhor os ama ternamente.

 

Estão faltando, porém, em alguns importantes elementos, e não fruem muito regozijo de seu cristianismo. São Martas que labutam e mourejam, mas deixam fora aquela coisa que é necessária. Olham com desaprovação í s Marias que não estão fazendo como fazem elas, e levam sua queixa ao Senhor. Não podem compreender como Cristo pode tomar a parte de Maria, quando, a seu ver, ela devia ser censurada. Trabalham, mas não se sentem muito contentes com isso. Pensam que outros não estão fazendo o que lhes cumpre. Lucas 10:38-42.

é a mesma lição salientada na história do filho pródigo. O filho mais velho nunca tinha feito qualquer coisa muito reprovável.

Sempre trabalhara arduamente , e nunca desperdiçara tempo em festas e bebedices. E agora que o filho mais novo estava de volta à casa, depois de malgastar sua porção em vida dissoluta, "ele se indignou, e não queria entrar" para a festa feita em honra do irmão que voltara. Não adiantou o pai sair e instar com ele. Antes o censurou, acusando-o de que vindo "este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado". Lucas 15:30. Bondosamente lhe torna o pai: "Era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se". Vers. 32. Não nos é contado o resto da história. Entrou o filho? Prevaleceu o amor do pai? Não sabemos. A história não diz. O último quadro que nos é apresentado, é do filho mais velho do lado de fora, indignado. é de esperar que se arrependesse e entrasse, mas não sabemos.

Os cristãos devem ser um povo feliz, mesmo em meio dos mais solenes acontecimentos. E por que não haviam de sê-lo? Seus pecados estão perdoados. Têm paz com Deus. Estão justificados, santificados, salvos. Deus lhes tem posto nos lábios um novo canto. São filhos do Altí­ssimo. Estão andando com Deus. São felizes no Seu amor.

Poucos cristãos têm no coração a paz de Deus como deviam. Parecem esquecer sua herança. Disse Cristo: "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize". João 14:27.

Todavia o coração de muitos se perturba. Têm temor. Andam ansiosos. Algum querido está fora do rebanho, e eles estão buscando "pô-lo para dentro".

 

Dia e noite labutam e oram. Não deixam nenhuma pedra por revolver em seu esforço de pôr cerco a sua salvação. Se alguém pode ser salvo pelo trabalho de outro, estão decididos a assim fazer. E não deixam a Deus fora do plano. Oram. Rogam. Oram como se Deus necessitasse ser despertado. E afinal o querido volta para Deus. Como se sentem felizes! Agora, podem descansar. Sua obra está feita, a tarefa realizada!

Acaso ocorre alguma vez a essas almas que Deus está tão interessado na conversão daquele ente amado como o estão eles próprios, ou antes, mais do que eles podem estar? Acode-lhes porventura que, muito tempo antes de começarem a orar esforçar-se, Deus já planejou e operou pela salvação daquele ser querido; que está fazendo e tem feito tudo quanto é possí­vel fazer? Que, em lugar de tomarem a obra do Senhor e Lhe suplicarem que os ajude, seria melhor se reconhecessem essa obra como pertencendo a Deus, e com Ele cooperassem? Desde o momento em que esta compreensão invade uma alma, dela se apodera a paz. Isto não faz uma pessoa orar ou trabalhar menos, mas leva-a a aliviar a sua responsabilidade. Começará a orar com fé. Se cremos que Deus está realmente operando, se acreditamos que tem interesse na salvação dos homens, oraremos mais que nunca, mas a responsabilidade deixaremos com Ele.

Muito de nosso trabalho se baseia na incredulidade. Com Habacuc; sentimos como se Deus não estivesse realmente fazendo Sua parte. Hab. 1:2-4. Ele precisa de ser lembrado. Há coisas para as quais Lhe devemos chamar a atenção, e começamos a pô-las perante Ele. Em vez de ter fé em Deus, em Sua sabedoria, Seu poder, tomamos sobre nós o fardo, dizendo, virtualmente, que não podemos confiar que Ele faça o que prometeu. Ao vir a fé, porém, ao raiar sobre nós a maravilhosa luz de que Deus rege ainda os negócios dos homens; que está fazendo o máximo para salvar a humanidade, e que nossas orações deveriam ser no sentido de Lhe conhecer a vontade " ao compreendermos isto, então a segurança, o descanso e a paz nos sobrevêm com abundância. Não haverá menos obras; serão, porém, obras de fé. Não haverá menos orações, mas de fé serão elas. Dia a dia ascenderão ações de graças pelo privilégio de cooperar com Deus.

 

Alma e coração encher-se-ão de paz. Não mais haverá lugar para a ansiedade e a aflição. Paz, doce paz, sossego, descanso, felicidade e alegria serão nossa diária porção. A vida e sua perspectiva se mudam inteiramente. Aprendemos a sentar-nos aos pés de Jesus. Enquanto Marta continua a trabalhar - e a queixar-se baixinho " Maria está escutando as palavras de vida. Encontrou a "uma só" coisa necessária. Compreende a palavra de Cristo: "A obra de Deus é esta: Que creiais". João 6:29. E ela crê e descansa.

Não há mais alta bem-aventurança possí­vel do que possuir no coração a paz de Deus. é o legado que nos deixou Cristo. "Deixo-vos a paz", diz Ele. Maravilhosas palavras! "A Minha paz vos dou". João 14:27. Sua paz era aquela tranqüila segurança que provém da confiança em Deus. Ao tempo em que Cristo proferiu estas palavras, estava-Se aproximando da cruz. Tinha diante de Si o Gólgota. Não vacilou, no entanto. Tinha o coração cheio de paz e segurança. Conhecia Aquele em quem confiava. E descansava na certeza de que Deus conhecia o caminho. Ele podia não ser capaz de "ver através dos portais da tumba". A esperança talvez "não Lhe apresentasse Sua saí­da do sepulcro como vencedor, nem Lhe falasse da aceitação do sacrifí­cio por parte do Pai". Mas, "pela fé, descansava nAquele a quem Lhe tinha sido sempre deleite obedecer... Pela fé, foi Cristo vitorioso". - O Desejado de Todas as Nações, págs. 561 e 563.

Aquela mesma paz nos legou Ele. Ela significa unidade com o Pai, companheirismo, comunhão. Quer dizer serena alegria, descanso, contentamento. Significa fé, esperança e amor. Nela não há temor ou ansiedade. Quem quer que a possua, tem aquilo que excede a todo entendimento. Tem uma fonte de força que não depende de circunstâncias. Está em harmonia com Deus.

 

 

O Templo de Zorobabel

O templo construí­do por Salomão foi destruí­do nas invasões de Nabucodonozor, no sexto século antes da nossa era. Governantes e povo foram gradualmente se afastando do Senhor e entregando-se mais à idolatria e ao pecado. Mau grado todos os esforços divinos para conjugar esses males, Israel continuava em apostasia. Deus lhes enviou Seus profetas, com advertências e com rogos, "porém zombaram dos mensageiros de Deus, e desprezaram as Suas palavras e mofaram dos Seus profetas até que o furor do Senhor subiu tanto, contra o Seu povo, que mais nenhum remédio houve. Porque fez subir contra eles o rei dos caldeus, o qual matou os seus mancebos à espada, na casa do seu santuário; e não teve piedade nem dos mancebos, nem das donzelas, nem dos velhos, nem dos decrépitos: a todos os deu na sua mão." II Crôn. 36:16 e 17.

Ao destruir Jerusalém, Nabucodonozor queimou "a casa do Senhor, e derrubaram os muros de Jerusalém; e todos os seus palácios queimaram a fogo, destruindo também todos os seus preciosos vasos." Vers. 19. "E os que escaparam da espada levou para Babilônia: e fizeram-se servos dele e de seus filhos, até ao templo do reino da Pérsia." Vers. 20. Começou assim o chamado cativeiro dos setenta anos, "para que se cumprisse a palavra do Senhor, pela boca de Jeremias, até que a Terra se agradasse dos seus sábados; todos os dias da desolação repousou, até que os setenta anos se cumpriram." Vers. 21.

O esplendor do templo de Salomão é visí­vel nos despojos que Nabucodonozor levou de Jerusalém. Uma descrição do livro de Esdras se refere a "trinta bacias de ouro, mil bacias de prata, vinte e nove facas, trinta taças de ouro, quatrocentas e dez taças de prata doutra espécie e mil outros vasos. Todos os vasos de ouro e de prata foram cinco mil e quatrocentos:

 

todos estes levou Sesbazar, quando do cativeiro subiram de Babilônia para Jerusalém." Esdras 1:9-11.

Israel esteve setenta anos no cativeiro. Ao cumprirem-se os dias, obtiveram permissão de voltar, mas naquela ocasião muitos haviam estado por tanto tempo em Babilônia, que preferiram lá ficar. Contudo, um remanescente voltou, e ao tempo devido foram lançados os alicerces do novo templo. "E todo o povo jubilou com grande júbilo, quando louvaram ao Senhor, pela fundação da casa do Senhor." Esdras 3:11. Mas a alegria não foi completa, pois "muitos dos sacerdotes, e levitas e chefes dos pais, já velhos, que viram a primeira casa, sobre o seu fundamento, vendo perante os seus olhos esta casa, choraram em altas vozes: mas muitos levantaram as vozes com júbilo e com alegria. De maneira que não discernia o povo jubilou com tão grande júbilo que as vozes se ouviam de mui longe." Esdras 3: 12 e 13.

O templo assim erigido passou a ser chamado templo de Zorobabel, derivando seu nome do orientador dos trabalhos da construção. Pouco se sabe quanto à sua estrutura, mas se supõe, e talvez com boas razões, que seguiu as linhas do templo de Salomão. A arca já não existia. Desaparecera ao tempo da invasão de Nabucodonozor. Refere a tradição que homens santos a tomaram e esconderam nas montanhas para evitar que caí­sse em mãos profanas. De qualquer maneira, o lugar santí­ssimo nada mais tinha a não ser uma pedra que servia de substituto da arca no Dia da Expiação. Esse templo existiu até perto do aprimoramento de Cristo. Foi então substituí­do pelo templo de Herodes.

 

OFERTAS QUEIMADAS

A

palavra hebraica comumente empregada para oferta queimada é olah. Ela significa "aquilo que sobe ou ascende". Outro termo por vezes empregado é Kallil, que quer dizer "inteiro". Certas versões usam a palavra "holocausto", aquilo que é inteiramente queimado.

Essas palavras descrevem a oferta queimada, que era inteiramente consumida sobre o altar, e da qual coisa alguma se comia. Das outras ofertas, apenas uma parte era queimada no altar da oferta queimada; o resto era comido ou se lhe dava algum outro fim. No caso de uma oferta queimada, porém, todo o animal era consumido, em chamas. Ela "ascendia" a Deus em cheiro suave. Era agradável ao Senhor. Simbolizava inteira consagração. Coisa alguma era retida. Entregava-se tudo a Deus. Lev. 1:9, 13 e 17.

O sacrifí­cio da manhã e da tarde era chamado o contí­nuo sacrifí­cio. Não se consumia num momento, mas devia queimar "sobre o altar toda a noite até pela manhã, e o fogo do altar arderá nele". Lev. 6:9; Êxo. 29:42. Durante o dia as ofertas queimadas individuais eram acrescentadas ao sacrifí­cio regular da manhã, de maneira que havia sempre uma oferta queimada sobre o altar. "O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará". Lev. 6:13.

As ofertas queimadas individuais eram voluntárias. A maior parte das outras eram preceptivas " isto é, envolviam preceito. Quando, por exemplo, um homem havia pecado, cumpria-lhe levar uma oferta por expiação do pecado. Não lhe cabia escolher muito quanto ao que havia de levar. Quase tudo era prescrito. Não acontecia o mesmo quanto à oferta queimada. Eram ofertas voluntárias, e o ofertante podia levar um novilho, uma ovelha, um cordeiro, rolas ou pombos, segundo lhe aprouvesse. Lev. 1:3, 10 e 14. A esse respeito, diferiam da maioria dos sacrifí­cios.

As ofertas queimadas eram, talvez, as mais importantes e caracterí­sticas de todas as ofertas. Encerravam as qualidades e os elementos essenciais dos outros sacrifí­cios.

 

 

Conquanto fossem voluntárias, de dedicação, essas ofertas, não se relacionando assim diretamente com o pecado, efetuava-se expiação por meio delas. Lev. 1:4. Jó oferecia ofertas queimadas por seus filhos, pois pensava: "Porventura pecaram meus filhos, e blasfemaram de Deus no seu coração". Jó 1:5. Essa espécie de ofertas se destaca como instituí­da "no monte Sinai, em cheiro suave, oferta queimada ao Senhor". Num. 28:6. Era um sacrifí­cio "contí­nuo", que devia estar sempre sobre o altar. Lev. 6:9. Por dezesseis vezes, nos capí­tulos 28 e 29 de Números, acentua o Senhor que nenhuma outra oferta deve tomar o lugar das contí­nuas ofertas queimadas. Cada vez que é mencionado outro sacrifí­cio, declara-se que o mesmo é oferecido além do "holocausto contí­nuo". Isso parece indicar-lhes a importância.

Como foi declarado, a oferta queimada era um sacrifí­cio voluntário. O ofertante podia levar qualquer animal limpo ordinariamente usado para sacrifí­cio. Exigia-se, entretanto, que o animal fosse um macho sem mancha. A pessoa devia oferecer "de sua própria vontade", "í  porta da tenda da congregação", "perante o Senhor". Lev. 1:3. Havendo escolhido o animal, levava-o ao pátio, para que fosse aceito. O sacerdote o examinava a ver se cumpria os requisitos quanto aos sacrifí­cios. Uma vez examinado e aceito, o ofertante punha a mão na cabeça do animal. Matava-o então, esfolava-o e o cortava em pedaços. Vers. 4-6. Ao ser o animal morto, o sacerdote colhia o sangue, espargindo-o sobre o altar em redor. Vers. 5 e 11. Partindo o animal em pedaços, as entranhas e as pernas eram lavadas com água, a fim de remover toda a imundí­cie. Feito isto, o sacerdote tomava os pedaços e os colocava em sua devida ordem sobre o altar da oferta queimada, para aí­ ser ela consumida pelo fogo. Vers. 9. O sacrifí­cio assim colocado sobre o altar incluí­a todas as partes do animal, tanto a cabeça, como os pés, as pernas, e o corpo mesmo, menos a pele. Esta era dada ao sacerdote oficiante. Lev. 1:8; 7:8.

Em caso de se usarem rolas ou pombos, o sacerdote os matava, torcendo-lhes o pescoço e espremendo seu sangue na parede do altar. Em seguida, o corpo da ave era posto no altar,

 

sendo aí­ consumido como a oferta queimada comum, depois de removidos as penas e o papo. Lev. 1:15 e 16.

As ofertas queimadas eram usadas em muitas ocasiões, como na purificação de leprosos (Lev. 14:19 e 20), na purificação das senhoras depois do parto (Lev. 12:6-8), bem como para a contaminação cerimonial. Lev. 15:15 e 30). Nesses casos usava-se uma oferta de expiação pelo pecado, da mesma maneira que uma queimada. A primeira expiava o pecado, a segunda mostrava a atitude do ofertante para com Deus numa consagração de todo o coração.

A oferta queimada teve lugar preeminente na consagração de Arão e seus filhos (Êxo. 29:15-25; Lev. 8:18), bem como em sua introdução no ministério. Lev. 9:12-14. Também se usava em relação com o voto do nazireu. Num. 6:14. Em todos esses casos, ela representava a inteira consagração do indiví­duo a Deus. O ofertante colocava-se, simbolicamente, sobre o altar; sua vida era inteiramente consagrada a Deus.

Não é difí­cil ver a relação entre estas cerimônias e a declaração feita em Romanos 12:1: "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifí­cio vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional". Cumpre-nos dedicar-nos inteiramente a Deus. Ser perfeitos. Só quando toda a imundí­cie era tirada da oferta queimada, era ela aceitável a Deus, sendo permitido que fosse colocada sobre o altar, "holocausto... de cheiro suave, oferta queimada ao Senhor". O mesmo se dá conosco. Todo pecado, toda imundí­cie da carne e do espí­rito, devem ser removidos antes de podermos ser aceitáveis a Deus. II Cor. 7:1.

Como oferta inteiramente consumida sobre o altar, o holocausto representa, em sentido especial, a Cristo, que Se entregou de todo, completamente, ao serviço de Deus. Por assim representar a Cristo, constitui um exemplo aos homens, para que Lhe sigam os passos. Ensina inteira consagração. é apropriadamente colocada como primeira na lista das ofertas enumeradas no Leví­tico. Diz-nos claramente que, para ser um "cheiro suave" a Deus, o sacrifí­cio tem de ser renúncia completa. Tudo deve ser posto sobre o altar. Coisa alguma será retida.

No holocausto é nos ensinado que Deus não faz acepção de pessoas.

 

O pobre homem que leva duas rolas é tão aceitável como o rico que leva um boi, ou como Salomão, que ofereceu mil ofertas queimadas. I Reis 3:4. As duas moedas são tão aprazí­veis a Deus, como a abundância da riqueza. Segundo sua capacidade é cada um aceito.

Outra lição da oferta queimada, é a da ordem. Deus quer ordem na Sua obra. Dá instruções especí­ficas a esse respeito. A lenha deve ser posta "em ordem" "sobre o fogo", não apenas empilhada. Os pedaços do animal devem ser postos "em ordem" "sobre a lenha", não meramente atirados de qualquer maneira sobre o fogo. Lev. 1:7, 8 e 12. A ordem é a primeira lei do céu. "Deus não é de confusão", Ele quer que Seu povo faça as coisas "decentemente e com ordem". I Cor. 14:33 e 40.

Outra importante lição, é a do asseio. Antes de os pedaços serem queimados sobre o altar, "sua fressura e as suas pernas" deviam lavar-se com água. Vers. 9. Isto parecia desnecessário. Estes pedaços iam ser consumidos no altar. Seria apenas um desperdí­cio de tempo lavá-los antes de os queimar. Tal não é entretanto a maneira de o Senhor raciocinar. A ordem é: Lava cada pedaço; coisa alguma imunda deve ir para o altar. E, assim, os pedaços são lavados e cuidadosamente arranjados em ordem sobre a lenha, a qual é posta em ordem sobre o altar.

Três elementos de purificação são usados nesse serviço: fogo, água e sangue. O fogo, simbólico do espí­rito santo, é um agente purificador. Quando Cristo vier "ao Seu templo", será "como o fogo de ourives". "E assentar-Se-á, afinando e purificando a prata: e purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e como prata: então ao Senhor trarão ofertas em justiça". Mal. 3:2 e 3. Ele purificará Seu povo "com o espí­rito de ardor". Isa. 4:4.

Pergunta-se: "Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?" Isa. 33:14. "Nosso Deus é um fogo consumidor". Heb. 12:29. O fogo é a presença de Deus, que consome ou purifica.

O fogo do altar não era fogo comum. Viera originalmente de Deus. "O fogo saiu de diante do Senhor, e consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar: o que vendo todo o povo, jubilaram e caí­ram sobre suas faces". Lev. 9:24. Deus lhes aceitara o sacrifí­cio.

 

Este estava limpo, lavado e "em ordem", pronto para o fogo; e o fogo "saiu de diante do Senhor". Supõe-se que esse fogo foi conservado sempre ardendo, não se deixando que se extinguisse; e como viera de Deus, era chamado sagrado, em contraste com o fogo comum, devendo ser empregado no serviço leví­tico.

A água é emblema, tanto do batismo como da palavra, duas agências purificadoras. "Também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra". Efés. 5:25 e 26. "Segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do espí­rito santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador". Tito 3:5 e 6. A Paulo foi dito que fosse batizado e lavasse os seus pecados (Atos 22:16). Quando os pedaços do animal usado como oferta queimada eram lavados antes de serem colocados sobre o altar, isto não só ensinava ao povo ordem e limpeza, mas também a lição espiritual de que, antes que qualquer coisa seja posta sobre o altar, antes que seja aceita por Deus, deve estar limpa, lavada, pura e santa.

Na oferta queimada " como em todas as ofertas " o sangue era o elemento vital, importante. é ele que efetua a expiação pela alma. A passagem clássica, tratando desse assunto, encontra-se em Leví­tico 17:11: "Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo dei sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; portanto é o sangue que faz expiação em virtude da vida". (Trad. Bras.)

A vida da carne está no sangue. é o sangue que faz expiação "em virtude da vida". Quando o sangue era aspergido sobre o altar e o fogo descia e consumia o sacrifí­cio, isto indicava a aceitação do substituto por parte de Deus. "Que seja aceito por ele", ou em lugar dele, "para a sua expiação". Lev. 1:4. Esta expiação era feita "em virtude da vida" que se achava no sangue. Mas esse sangue, que representava a vida, só era eficaz depois da morte da ví­tima. Houvesse Deus querido dar a idéia de que era o sangue, como tal, que era eficaz, sem a morte, tê-lo-ia declarado. Certa porção de sangue poderia ser tirado de um animal sem o matar " como se faz agora nas transfusões de sangue. Assim seria ele provido sem morte.

 

Não é este, porém, o plano de Deus. O sangue não era usado senão depois de ter lugar a morte. E é o sangue de alguém que morreu. Deu-se uma morte, e não é senão depois dela que se emprega o sangue. Somos reconciliados pela morte de Cristo, somos salvos por Sua vida. Rom. 5:10. Não foi senão depois da morte de Cristo que fluiu sangue e água. João 19:34. Cristo "veio por água e sangue,.. não só por água, mas por água e por sangue". I João 5:6. Não pode ser demasiadamente acentuado esse ponto " que é "intervindo a morte" que recebemos "a promessa da herança eterna", e que um testamento não é válido sem que haja a morte, que "um testamento tem força onde houve morte", e que "necessário é que intervenha a morte do testador". Heb. 9:15-17. Podemos, portanto, rejeitar qualquer teoria de expiação que faça do exemplo de Cristo o único fator em nossa salvação. O exemplo tem seu lugar; é na verdade vital, mas a morte de Cristo permanece o fato central da expiação.

O holocausto, "oferta queimada", era "de cheiro suave ao Senhor". Lev. 1:17. Era aprazí­vel ao Senhor. Era Lhe aceitável. Algumas das razões para isso foram dadas. Salienta-las-emos aqui.

Como a oferta queimada era, antes de tudo e acima de tudo, um tipo da perfeita oferta de Cristo, é natural que lhe agradasse. Como o sacrifí­cio devia ser sem mancha, perfeito, assim Cristo foi o "Cordeiro imaculado e incontaminado", que "nos amou, e Se entregou a Si mesmo por nós, em oferta e sacrifí­cio a Deus em cheiro suave". I Pedro 1:19; Efés. 5:2. Cristo representa completa consagração, dedicação inteira, plena entrega, em dar tudo para que pudesse salvar alguns.

A oferta queimada era agradável a Deus porque revelava o desejo do coração do ofertante de se dedicar a Deus. Efetivamente, ele dizia: "Senhor, quero servir-Te. Coloco-me, sem reservas, sobre o altar. Nada retenho para mim mesmo. Aceita-me no substituto". Tal atitude é um cheiro suave ao Senhor.

A oferta queimada era um cheiro suave a Deus por ser uma oferta voluntária. Não era exigida. Não havia preceito nem devia ser levada em tempos determinados. Se alguém tinha pecado, Deus requeria uma expiação, ou oferta pelo pecado.

 

Nunca, porém, exigia uma oferta queimada. Se alguém a oferecia, era "de sua própria vontade". Lev. 1:3. Não havia compulsão. Tinha portanto muito mais significação do que uma oferta preceptiva. Indicava um coração cheio de reconhecimento.

Há perigo de que os cristãos façam muitas coisas pertencentes à religião, não porque as desejam fazer, mas por serem costumes, ou exigidas. Dever é uma grande palavra; mas amor é ainda maior. Não convém amesquinhar o dever; ao contrário, cumpre-nos reforçá-lo. Não esqueçamos, porém, que o amor é uma força maior ainda, e que, devidamente compreendida e aplicada, cumpre o dever, porque o incluí­. O amor é voluntário, livre; o dever é exigente, obrigatório. O dever é lei; o amor é graça. Ambos são necessários, e um não deve ser acentuado com exclusão do outro.

Como não havia nenhuma obrigatoriedade quanto à oferta queimada, ela era, na realidade, uma oferta de amor, de dedicação, de consagração. Era alguma coisa além e acima do que era exigido. Isto agradava a Deus.

"Deus ama ao que dá com alegria". II Cor. 9:7. Alguns entendem isto como significando: Deus ama um doador liberal, que dá muito. Conquanto possa ser assim, a declaração, no entanto, é que Deus ama aquele que dá alegremente, de livre vontade. A dádiva poderá ser pequena ou grande, mas se é feita de boa vontade, é aprazí­vel a Deus.

Bom seria aplicarmos este princí­pio ao cristianismo da vida diária. Talvez sejamos solicitados a fazer determinada coisa, a dar para certa causa, ou executar alguma tarefa não muito agradável. Fazemo-lo í s vezes resignadamente, acreditando que, como aquilo é, em si mesmo, uma coisa boa, talvez devamos fazê-lo; não experimentamos, todavia, muita satisfação. Sentimos que o devemos fazer, mas folgarí­amos de ser dispensados.

Deus Se desagrada por certo com a atitude que tomamos por vezes. Envia um de Seus ministros com alguma mensagem. Somos advertidos a dar, a fazer, a sacrificar, a orar. Não há alegre resposta ao apelo. Este tem de ser repetido aqui e ali e, afinal, apenas com metade do coração fazemos aquilo que nos é solicitado. Pomos vinte centavos ou dez cruzeiros na sacola da coleta, não porque realmente nos interesse,

 

Mas porque nos envergonharí­amos de que outros vissem que não tomamos parte na oferta. Fazemos nossa parte na Recolta para as missões, não porque gostemos de fazer essa obra, mas por ser uma parte do programa da igreja.

Porque Davi era voluntário e alegre no serviço, sem dúvida, Deus o amava. Ele pecara, e pecara de maneira terrí­vel, mas se arrependera tão profundamente quanto pecara, e Deus lhe perdoou. Essa experiência deixou profunda impressão no espí­rito de Deus, e sempre, daí­ em diante, ele anelava fazer alguma coisa para Deus e agradar-lhe.

Foi esse espí­rito que o levou a propor-se a construir um templo para habitação de Deus. O tabernáculo erigido no deserto contava algumas centenas de anos. O material de que fora construí­do devia estar deteriorado. Deus Se teria agradado de que alguém Lhe edificasse um templo; decidiu, porém, não dar a conhecer Seus desejos até que alguém tivesse por si mesmo aquele pensamento. Assim o fez Davi, e alegrou-se ante a idéia de ser-lhe dado fazer qualquer coisa para Deus. Não lhe foi permitido edificar o templo, mas, para demonstrar apreço pelo que ele tinha em mente fazer, Deus lhe disse que, em vez de Davi Lhe edificar uma casa, Ele estabeleceria uma casa a Davi. I Crôn. 17:6-10. Foi em relação com isto que Deus lhe fez a promessa de que seu trono seria "firme para sempre". Vers. 14. Isto tem seu cumprimento em Cristo, que, ao vir, há de sentar-Se sobre "o trono de Davi, Seu pai". Lucas 1:32. é uma promessa maravilhosí­ssima, fora do comum. Abraão, Moisés e Elias são passados por alto, e a honra é dada a Davi. Uma razão para isto, cremos, encontra-se na boa vontade desse servo para fazer para Deus alguma coisa além e acima do que era exigido.

Isto é ilustrado de modo frisante no desejo de Davi de edificar um templo. Como já foi declarado, Deus lhe dissera que ele não podia construir o templo. O servo do Senhor desejava-o, no entanto, grandemente. Pensando demoradamente no assunto, encontrou vários meio de fazer preparativos para a construção, sem que a executasse ele mesmo. Davi disse: "Salomão, meu filho, ainda é moço e tenro, e a casa que se há de edificar para o Senhor se há de fazer magní­fica em excelência, para nome e glória em todas as terras; eu pois agora lhe prepararei materiais. Assim preparou Davi materiais em abundância, antes de sua morte". I Crôn. 22:5.

 

 

A primeira coisa que Davi fez foi juntar dinheiro. Os algarismos dados em I Crôn. 22:14, somam muitos milhões de cruzeiros em nossa moeda " o que foi dado ou coletado por Davi. Em seguida ordenou ele que "lavrassem pedras de cantaria, para edificar a casa de Deus". I Crôn. 22:2. Davi preparou também "ferro em abundância para os pregos das portas das entradas, e para as junturas: como também cobre em abundância, sem peso". Vers. 3. Antes de ele poder fazer qualquer destas coisas, entretanto, foi-lhe necessário ter um modelo, ou planta. Esse modelo, conta-nos Davi, ele o recebeu do Senhor. "Tudo isto, disse Davi, por escrito me deram a entender por mandado do Senhor, a saber, todas as obras deste risco". I Crôn. 28:19. Podemos quase imaginar o que Davi disse ao Senhor: "Senhor, Tu dizes que não posso edificar o templo. Eu gostaria tanto de fazê-lo, mas estou contente em confiar em Tua decisão. Poderei fazer um modelo? Isto não seria construir, não é verdade, Senhor?". Assim o Senhor o ajudaria a fazer uma planta, satisfeito com a boa vontade de Davi de fazer alguma coisa para Ele.

Existe, em I Crônicas 28:4, interessante declaração a esse respeito: "O Senhor Deus de Israel escolheu-me de toda a casa de meu pai, para que eternamente fosse rei sobre Israel; porque a Judá escolheu por prí­ncipe, e a casa de meu pai na casa de Judá: e entre os filhos de meu pai se agradou de mim para me fazer rei sobre todo o Israel". Esta singular expressão mostra o alto apreço de Deus por Davi. E assim este obteve permissão para preparar a pedra, a madeira e o ferro para o templo do Senhor, bem como o projeto. Talvez fosse esta a razão por que, mais tarde, na ereção do templo, não se ouvisse som de martelo. Davi preparara de antemão o material.

Davi não se contentou entretanto com o fazer os preparativos para a edificação do templo. Queria preparar também a música para a dedicação. Isto não era construir, de modo que se sentiu na liberdade de o fazer. Davi era o suave cantor de Israel; amava a música de todo o coração. De modo que começou a fazer preparativos para a ocasião, reunindo um grupo de quatro mil "para louvarem ao Senhor com os instrumentos, que eu fiz para O louvar". I Crôn. 23:5.

 

 

Reuniu também os cantores e os ensaiou, segundo se acha registrado no capí­tulo vinte e cinco do mesmo livro. é grato imaginar Davi, depois da triste experiência de sua vida, passando alguns anos em paz e contentamento, fazendo preparativos para a construção do templo do Senhor e ensaiando os cantores e os músicos para sua consagração.

Todavia Davi ainda não estava satisfeito. O senhor lhe dissera que não podia construir o templo, mas que seu filho Salomão o havia de fazer. Que impediria Davi de abdicar e fazer Salomão rei de Israel? ââ‚"Sendo pois Davi já velho, e cheio de dias, fez Salomão seu filho rei sobre Israel". I Crôn. 23:1. Conquanto houvesse razões polí­ticas para assim proceder, o contexto indica ter sido a idéia da construção do templo um fator vital.

Não admira que Deus amasse a Davi. Este estava sempre se esforçando para que Deus lhe permitisse fazer mais para Ele. Meditou no plano de fazer preparativos para a construção do templo. Arrecadou incalculável soma de dinheiro, exercitou os músicos " tudo a fim de fazer alguma coisa para Deus, que tanto por ele fizera. Davi era um alegre doador de dinheiro e de serviço, e Deus gostava dele. Não sabemos quanto tempo viveu Davi depois de Salomão ter sido feito rei, mas, ao morrer, "segunda vez fizeram rei a Salomão, filho de Davi". I Crôn. 29:22.

Quem dera que tivéssemos mais homens e igrejas como Davi, dispostos a se sacrificar e a trabalhar, e ansiosos de fazer ainda mais! Então não haveria mais necessidade de concitar o povo ou as igrejas a levantarem-se e finalizar a obra. Se Davi estivesse aqui e fosse solicitado a dar 10 cruzeiros, ele indagaria, sem dúvida: "Não poderei dar 20 ou 100 cruzeiros?" E o Senhor Se agradaria e diria: "Sim, Davi, podes faze-lo". Foi por causa deste espí­rito que Davi, a despeito de seu pecado, foi escolhido, para ser o pai terrestre de Cristo. Foi o mesmo espí­rito que levou Cristo a dar voluntariamente, a sofrer tudo, fazendo afinal o sacrifí­cio supremo. Deus ama ao que dá com alegria.

 

 

O Templo de Salomão

Ao assumir o reino Salomão, o velho tabernáculo devia achar-se em condições precárias. Contava várias centenas de anos e estivera exposto ao vento e à intempérie por todo esse longo tempo. Davi se havia proposto edificar ao Senhor uma casa, mas lhe foi dito que, visto ser ele homem guerreiro, não lhe seria dado faze-la. Seu filho Salomão construí­-la-ia. E esse templo foi edificado "com pedras preparadas, como as traziam se edificava: de maneira que nem martelo, nem machado, nem nenhum outro instrumento de ferro se ouviu na casa quando a edificavam". I Reis 6:7.

O templo propriamente dito tinha cerca de 9 metros de largura por 27 de comprimento. Na frente, que ficava para o lado do nascente, havia um vestí­bulo com aproximadamente 9 metros de comprimento por 5 de largura. Ao redor das outras paredes do templo foram construí­das três filas de câmaras, sendo algumas delas usadas para aposentos dos sacerdotes e levitas que oficiavam no templo, e as demais para depósito do dinheiro e outras dádivas ofertadas. Por dentro era forrado de cedro coberto de ouro e esculpido com figuras de querubins, palmas e flores abertas. I Reis 6:15, 18, 21, 22 e 29. Deles se diz: "Assim edificou Salomão aquela casa, e a aperfeiçoou. Também cobriu as paredes da casa por dentro com tábuas de cedro: desde o soalho da casa até ao teto tudo cobriu com madeira por dentro: e cobriu o soalho da casa com tábuas de faia". I Reis 6:14 e 15.

O tabernáculo original não tinha soalho, mas no templo Salomão colocou "tábuas de cedro nos lados da casa, desde o soalho até í s paredes: e por dentro lhas edificou para o oráculo, para o Santo dos Santos". Vers. 16. Depois de haver coberto toda a parte interior do templo com cedro, de modo que "pedra nenhuma se via", "cobriu Salomão a casa por dentro de ouro puro:

 

E com cadeias de ouro pôs um véu diante do oráculo, e o cobriu com ouro. Assim toda a casa cobriu de ouro, até acabar toda a casa". Vers. 18, 21 e 22.

No oráculo, ou lugar santí­ssimo, foi colocada a arca do concerto do Senhor. A arca original tinha dois querubins de ouro puro. Agora, dois outros querubins foram feitos e fixados sobre o soalho, e entre estes foi a arca colocada. Foram feitos de madeira de oliveira, tendo cada um deles cerca de quatro metros e meio de altura. "Ambos os querubins eram duma mesma medida e dum mesmo talhe". I Reis 6:25. "Os querubins estendiam as asas, de maneira que a asa dum tocava na parede, e a asa do outro querubim na outra parede: e as suas asas no meio da casa tocavam uma na outra". I Reis 6:27. Isso fazia com que as asas dos dois querubins combinadas cobrissem uma área de 9 metros aproximadamente. Esses querubins eram cobertos de ouro e em todas as paredes da casa, tanto por dentro como por fora, estavam esculpidas figuras de querubins, palmas e flores abertas. Até o soalho era coberto de ouro. Vers. 29 e 30.

No primeiro compartimento várias mudanças foram feitas. Diante do oráculo, e que é mencionado como a ele pertencendo (I Reis 6:22, Vers. Brás.), estava, como no tabernáculo, o altar do incenso. Em vez de um castiçal, havia agora dez, cinco de um lado e cinco de outro. Esses castiçais eram de ouro puro, como o eram os espevitadores, os apagadores, as bacias, os perfumadores e os braseiros. I Reis 7:49 e 50. Em vez de uma mesa com os pães da proposição, havia ali dez, "cinco à direita, e cinco à esquerda". II Crôn. 4:8.

O altar dos holocaustos, ou de cobre, como é chamado, foi consideravelmente aumentado no templo de Salomão. O do antigo tabernáculo tinha cerca de dois metro e meio. O do templo de Salomão quase quatro vezes mais, ou sejam, nove metros, e quase cinco de altura. As caldeiras, pás e bacias usadas no serviço do altar eram de cobre. II Crôn. 4:11 e 16.

No santuário havia uma pia para as abluções. No templo ela era muito maior. Era uma ampla bacia de bronze com 4m,50 de diâmetro e quase dois e meio de altura, com uma capacidade de mais de 70 mil litros. Chamava-se mar de fundição. I Reis 7:23-26. O bronze de que era feito tinha um palmo de espessura.

 

Os bordos foram feitos à semelhança de um copo, com flores de lí­rios. O mar inteiro firmava-se sobre doze bois, "três que olhavam para o norte, e três que olhavam para o ocidente, e três que olhavam para o sul, e três que olhavam para o oriente: e o mar em cima estava sobre eles, e todas as suas partes posteriores para a banda de dentro". I Reis 7:25.

Ao lado desse mar de grandes proporções havia bacias menores montadas sobre rodas, de maneira que pudessem ser movidas de um lugar para outro. I Reis 7:27-37. Cada uma dessas bacias continha mais de 400 litros de água e eram usadas para lavar as partes dos animais que deviam ser queimadas sobre o altar dos holocaustos. II Crôn. 4:6. Cada uma delas estava colocada sobre uma base de cobre; "e era a obra das rodas como a obra da roda de carro: seus eixos, e suas cambas, e seus cubos, e seus raios, todos eram fundidos". I Reis 7:33. Os lados eram ornamentados com figuras de leões, bois, querubins e palmas, "e debaixo dos leões e dos bois junturas de obra estendida". Vers. 29 e 36. O tamanho do pátio não é mencionado, mas certamente devia ser consideravelmente maior do que o do tabernáculo.

Em I Reis 6:22 encontra-se uma declaração interessante relativamente ao altar do incenso. Os versí­culos anteriores descrevem o oráculo, ou o lugar santí­ssimo. é mencionada como ali estando a arca que continha os dez mandamentos, dizendo-se também que "cobriu de cedro o altar". Vers. 19 e 20. Esse altar, segundo se afirma no vers. 22, "pertencia ao oráculo". (Vers. Brás.). Talvez suscite alguma dificuldade a questão que surge da leitura do capí­tulo nove de Hebreus, onde o altar do incenso é omitido na descrição da mobí­lia do primeiro compartimento, e um incensário é mencionado como estando no segundo compartimento. Vers. 2-4. A Versão Brasileira registra "altar de ouro para o incenso", ao invés de incensário. Seja, porém, qual for a idéia que se tenha desse ponto controvertido, é digno de nota que Hebreus 9:2 omite o altar de incenso ao descrever o lugar santo. A afirmação de I Reis 6:22, de que o altar de incenso conquanto localizado no lugar santo "pertencia" ao santí­ssimo, é geralmente considerada como a tradução correta. Da declaração de Êxodo 30:6 concluí­mos, portando, que o altar do incenso estava situado defronte ao véu,

 

No lugar santo, "diante do propiciatório", e que seu uso era tal que, em certo sentido, "pertencia" também ao lugar santí­ssimo. E como na realidade o incenso enchia tanto o lugar santo como o santí­ssimo, esta parece ser, afinal, a melhor maneira de compreender o assunto. ( Ver Êxo. 40:26).

Page 6 of 6

Veja Mais dados Novos Conteúdos