Atos dos Apóstolos

 


    Enquanto Apolo pregava em Corinto, Paulo cumpria sua promessa de voltar a Éfeso. Havia feito uma breve visita a Jerusalém e despendera algum tempo em Antioquia, cenário de seus primeiros trabalhos. Daí viajou através da Ásia Menor, "sucessivamente pela província da Galácia e da Frígia" (Atos 18:23) visitando as igrejas que ele próprio estabelecera e fortalecendo a fé dos crentes.
    No tempo dos apóstolos, a parte oeste da Ásia Menor era conhecida como a província romana da Ásia. Éfeso, a capital, era um grande centro comercial. Seu porto estava coalhado de embarcações e suas ruas apinhadas de pessoas de todos os países. Como Corinto, Éfeso apresentava um campo promissor para o trabalho missionário.
    Os judeus, então amplamente dispersos por todas as terras civilizadas, estavam geralmente expectantes pelo advento do Messias. Quando João Batista estava pregando, muitos, em suas visitas a Jerusalém por ocasião das festas anuais, haviam ido às barrancas do Jordão para ouvi-lo. Ali ouviram eles ser Jesus proclamado como o Prometido, e tinham levado as novas a todas as partes do mundo. Dessa maneira a providência preparara o caminho para o trabalho dos apóstolos.
    Chegando a Éfeso, Paulo encontrou doze crentes que, como Apolo, tinham sido discípulos de João Batista, e como ele alcançado algum conhecimento da missão de Cristo. Eles não tinham a habilidade de Apolo, mas com a mesma sinceridade e fé estavam procurando espalhar o conhecimento que possuíam.
    Esses irmãos nada sabiam da missão do Espírito Santo. Quando interrogados por Paulo se haviam recebido o Espírito Santo, responderam: "Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo." "Em que sois batizados então?" interrogou Paulo, e eles responderam: "No batismo de João." Atos 19:2 e 3.
    Então o apóstolo expôs perante eles as grandes verdades que são o fundamento da esperança do cristão. Falou-lhes da vida de Cristo na Terra, e de Sua cruel morte de vergonha. Contou-lhes como o Senhor da vida quebrara os grilhões da tumba e ressurgira triunfante da morte. Repetiu as palavras da comissão do Salvador aos discípulos: "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra. Portanto ide, e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo." Mat. 28:18 e 19. Falou-lhes também da promessa de Cristo de enviar o Consolador, por cujo poder grandes sinais e maravilhas seriam feitos, e contou-lhes quão gloriosamente havia esta promessa sido cumprida no dia de Pentecoste.
    Com profundo interesse e grata e pasma alegria, os irmãos atentaram para as palavras de Paulo. Pela fé aprenderam a maravilhosa verdade do sacrifício expiatório de Cristo, e receberam-nO como seu Redentor. Foram então batizados em nome de Jesus; "e, impondo-lhes Paulo as mãos" (Atos 19:6), receberam também o batismo do Espírito Santo que os capacitou a falar as línguas de outras nações e a profetizar. Dessa forma estavam habilitados a trabalhar como missionários em Éfeso e circunvizinhanças, e também a sair para proclamar o evangelho na Ásia Menor.
    Foi por nutrir um espírito humilde e dócil que esses homens alcançaram a experiência que os capacitava a sair como obreiros para o campo da seara. Seu exemplo oferece aos cristãos uma lição de grande valor. Há muitos que fazem apenas pequeno progresso na vida religiosa porque são presunçosos demais para ocupar a posição de aprendizes. Sentem-se satisfeitos com o conhecimento superficial da Palavra de Deus. Não desejam mudar sua fé ou obras, e não fazem, por conseguinte, qualquer esforço para obter maior luz.
    Se os seguidores de Cristo fossem fervorosos na busca da sabedoria, seriam levados aos ricos campos da verdade, ainda inteiramente desconhecidos para eles. Aquele que se entregar inteiramente a Deus, será guiado pela mão divina. Poderá ser humilde e aparentemente não dotado de dons; contudo, se com coração amante e confiante obedecer a toda manifestação da vontade de Deus, suas faculdades serão purificadas, enobrecidas, revigoradas e aumentadas as suas capacidades. Ao serem por ele entesouradas as lições de divina sabedoria, um sagrado encargo ser-lhe-á confiado; será capacitado a fazer de sua vida uma honra para Deus e uma bênção para o mundo. "A exposição das Tuas palavras dá luz; dá entendimento aos símplices." Sal. 119:130.
    Há muitos hoje em dia tão ignorantes da obra do Espírito Santo sobre o coração quanto o eram os crentes de Éfeso; não há entretanto verdade mais claramente ensinada na Palavra de Deus. Profetas e apóstolos têm-se demorado sobre este tema. Cristo mesmo chama nossa atenção para o crescimento do mundo vegetal, como uma ilustração da operação de Seu Espírito no suster a vida espiritual. A seiva da vinha, subindo da raiz, é difundida para os ramos, promovendo o crescimento e produzindo flores e frutos. Assim o poder vitalizante do Espírito Santo, que emana do Salvador, permeia a alma, renova os motivos e afeições e leva os próprios pensamentos à obediência da vontade de Deus, capacitando o que recebe a produzir os preciosos frutos de obras santas.
    O Autor desta vida espiritual é invisível, e o método exato pelo qual é esta vida repartida e mantida está além da capacidade da filosofia humana explicar. Todavia as operações do Espírito estão sempre em harmonia com a Palavra escrita. Como sucede no mundo natural, assim também se dá no espiritual. A vida natural é preservada a todo o momento pelo divino poder; todavia não é sustentada por um milagre direto, mas mediante o uso de bênçãos colocadas ao nosso alcance. De igual forma é a vida espiritual sustentada pelo uso dos meios supridos pela Providência. Se o seguidor de Cristo quiser crescer até chegar "a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo" (Efés. 4:13), precisa comer do pão da vida e beber da água da salvação. Precisa vigiar, orar e trabalhar, dando em todas as coisas atenção às instruções de Deus em Sua Palavra.
    Há ainda para nós outras lições na experiência daqueles conversos judeus. Quando eles receberam o batismo das mãos de João, não compreenderam completamente a missão de Jesus como Aquele que leva o pecado. Mantinham sérios erros. Mas com mais clara luz, alegremente aceitaram a Cristo como seu Redentor, e com este passo de progresso veio uma mudança em suas obrigações. Ao receberem uma fé mais pura, houve uma correspondente mudança em sua vida. Como sinal desta mudança, e em reconhecimento de sua fé em Cristo, foram rebatizados no nome de Jesus.
    Conforme seu costume, Paulo iniciou sua obra em Éfeso pregando na sinagoga dos judeus. Aí continuou trabalhando por três meses, "disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus". A princípio encontrou recepção favorável; mas como nos outros campos, logo surgiu violenta oposição. "Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão" (Atos 19:8 e 9), e como persistissem em sua rejeição do evangelho, o apóstolo cessou de pregar na sinagoga.
    O Espírito de Deus operara em Paulo e por meio dele, em seus labores em favor de seus compatriotas. Suficiente prova fora apresentada para convencer a todos os que sinceramente desejassem conhecer a verdade. Muitos, porém, permitiram que os dominassem o preconceito e a incredulidade, e recusaram submeter-se à mais decisiva evidência. Temendo que a fé dos crentes corresse perigo pela contínua associação com esses oponentes da verdade, Paulo se separou deles e reuniu os discípulos num grupo distinto, continuando suas instruções públicas na escola de Tirano, professor de algum destaque.
    Paulo viu que "uma porta grande e eficaz" se lhe abria, embora houvesse "muitos adversários". I Cor. 16:9. Éfeso não era somente a mais magnificente, como também a mais corrupta das cidades da Ásia. A superstição e os prazeres sensuais mantinham domínio sobre sua fervilhante população. À sombra de seus templos encontravam guarida os criminosos de toda espécie, e floresciam os mais degradantes vícios.
    Éfeso era o centro popular da adoração de Diana. A fama do magnificente templo da "Diana dos efésios", estendia-se através de toda a Ásia e do mundo. Seu insuperável esplendor tornava-o o orgulho não apenas da cidade, mas da nação. Declarava a tradição haver o ídolo caído do céu dentro do templo. Sobre ele estavam escritos caracteres simbólicos, dos quais se dizia que possuíam grande poder. Livros haviam sido escritos pelos efésios para explicar o significado e o uso desses símbolos.
    Entre os que estudavam com atenção esses custosos livros, estavam muitos mágicos que exerciam poderosa influência sobre a mente dos supersticiosos adoradores da imagem no templo.
    Ao apóstolo Paulo, em seus labores em Éfeso, foi dada especial demonstração do favor divino. O poder de Deus acompanhava seus esforços, e muitos eram curados de males físicos. "E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam." Atos 19:11 e 12. Estas manifestações de poder sobrenatural eram tão mais poderosas que as que já haviam sido antes testemunhadas em Éfeso, e de tal caráter que as não podiam imitar os habilidosos truques ou encantamentos de feiticeiros. Ao serem esses milagres operados no nome de Jesus de Nazaré, tinha o povo oportunidade de ver que o Deus do Céu era mais poderoso que os mágicos adoradores da deusa Diana. Assim o Senhor exaltava Seu servo, mesmo diante dos idólatras, incomparavelmente acima do mais poderoso e favorecido dos mágicos.
    Mas Aquele a quem estão sujeitos todos os espíritos do mal, e sobre os quais dera a Seus servos autoridade, estava para levar maior vergonha e ruína sobre os que desprezavam e profanavam Seu santo nome. A feitiçaria havia sido proibida pela lei mosaica, sob pena de morte, embora de tempos em tempos houvesse sido praticada secretamente por judeus apostatados. Ao tempo da visita de Paulo a Éfeso, havia na cidade "alguns dos exorcistas judeus ambulantes", os quais vendo as maravilhas por ele operadas, "tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que tinham espíritos malignos". Uma tentativa foi feita por "sete filhos de Ceva, judeu, principal dos sacerdotes". Encontrando um homem possesso de demônio, disseram-lhe: "Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega." Porém "o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo; mas vós quem sois? E, saltando neles o homem que tinha o espírito maligno, e assenhoreando-se de dois, pôde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa". Atos 19:13-16.
    Foi dada assim prova insofismável da santidade do nome de Cristo, e do perigo que incorreriam os que invocassem esse nome sem fé na divindade da missão do Salvador. "E caiu temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido." Atos 19:17.
    Fatos que haviam sido previamente encobertos foram agora trazidos à luz. Ao aceitarem o cristianismo, alguns crentes não haviam renunciado inteiramente as suas superstições. Ainda continuaram em certa medida a praticar a magia. Agora, convictos de seu erro, "muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos". Atos 19:18. A boa obra se estendeu mesmo a alguns dos próprios feiticeiros; e "muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros e os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço, acharam que montavam a cinqüenta mil peças de prata. Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia". Atos 19:19 e 20.
    Queimando seus livros sobre magia, os conversos efésios mostravam que aquilo em que antes se deleitavam abominavam agora. Foi por praticarem artes mágicas, e por meio delas, que haviam especialmente ofendido a Deus e posto em perigo sua alma; e foi contra as artes mágicas que mostraram tal indignação. Assim deram prova de verdadeira conversão.
    Esses tratados de adivinhação continham regras e formas de comunicação com os espíritos do mal. Eram os regulamentos da adoração de Satanás - regras para lhe solicitar auxílio e obter dele informações. Retendo esses livros os discípulos se estariam expondo à tentação; vendendo-os teriam colocado a tentação no caminho de outros. Haviam renunciado ao reino das trevas, e para destruir seu poder não hesitaram ante qualquer sacrifício. Triunfou assim a verdade sobre o preconceito dos homens e seu amor ao dinheiro.
    Por esta manifestação do poder de Cristo, foi ganha poderosa vitória para o cristianismo na própria fortaleza da superstição. A influência do que havia tido lugar espalhou-se mais amplamente do que Paulo mesmo imaginava. De Éfeso as novas circularam por vasta extensão, e forte impulso foi dado à causa de Cristo. Muito tempo depois de haver o apóstolo terminado sua carreira, estas cenas ainda viviam na memória do povo e eram um meio de ganhar conversos para o evangelho.
    Supõe-se lisonjeiramente que as superstições pagãs tenham desaparecido diante da civilização do século vinte. Mas a Palavra de Deus e o severo testemunho dos fatos declaram que a feitiçaria é praticada neste século tanto quanto o foi nos velhos tempos da magia. O antigo sistema de magia é, na realidade, o mesmo agora conhecido como moderno espiritismo. Satanás está encontrando acesso a milhares de mentes por apresentar-se sob o disfarce de amigos já falecidos. As Escrituras declaram que "os mortos não sabem coisa nenhuma". Ecl. 9:5. Seus pensamentos, amor e ódio já pereceram. Os mortos não mantêm comunhão com os vivos. Mas seguro de sua antiga astúcia, Satanás emprega este engano para obter o controle das mentes.
    Através do espiritismo, muitos enfermos, desolados, curiosos se estão comunicando com os espíritos do mal. Todos os que se aventuram a isto estão pisando solo perigoso. A Palavra da verdade declara a maneira como Deus os considera. Nos tempos antigos Ele pronunciou um severo juízo contra um rei que havia buscado conselho de um oráculo pagão: "Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? E por isso assim diz o Senhor: Da cama, a que subiste, não descerás, mas sem falta morrerás." II Reis 1:3 e 4.
    Os mágicos dos tempos pagãos têm seu correspondente nos médiuns espiritistas, nos videntes e nos cartomantes de hoje. As vozes misteriosas que falaram em En-Dor e em Éfeso ainda estão por suas palavras mentirosas desviando os filhos dos homens. Se fosse erguido o véu que está diante de nossos olhos, veríamos anjos maus empregando todas as suas artes para enganar e destruir. Onde quer que uma influência esteja afastando os homens de Deus, ali está Satanás exercendo seu poder de feitiçaria. Quando os homens se rendem a sua influência, antes de se darem conta a mente está desviada e a alma poluída. A admoestação do apóstolo à igreja de Éfeso devia ser ouvida pelo povo de Deus hoje: "E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as." Efés. 5:11.



    Em sua primeira carta à igreja de Corinto, Paulo deu aos crentes instruções referentes a princípios gerais sobre os quais se apóia o sustento da obra de Deus na Terra. Escrevendo a respeito de seu trabalho apostólico em favor deles, ele interroga:
    "Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não come do leite do gado? Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a lei também o mesmo? Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois? Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança, e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante.
    "Se nós vos semeamos as coisas espirituais", indagou mais o apóstolo, "será muito que de vós recolhamos as carnais? Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo. Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho." I Cor. 9:7-14.
    O apóstolo aqui se refere ao plano do Senhor para a manutenção dos sacerdotes que ministravam no templo. Os que eram separados para esse sagrado ofício eram mantidos por seus irmãos, aos quais ministravam bênçãos espirituais. "Os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo." Heb. 7:5. A tribo de Levi fora escolhida pelo Senhor para os sagrados ofícios relacionados com o templo e o sacerdócio. Do sacerdote foi dito: "O Senhor teu Deus o escolheu... para que assista a servir no nome do Senhor." Deut. 18:5. Um décimo de toda a renda era reclamada pelo Senhor como Lhe pertencendo, e reter o dízimo era por Ele considerado como roubo.
    Foi a esse plano para sustento do ministério que Paulo se referiu quando disse: "Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho." I Cor. 9:14. E mais tarde, escrevendo a Timóteo, disse o apóstolo: "Digno é o obreiro do seu salário." I Tim. 5:18.
    A devolução do dízimo era apenas uma parte do plano de Deus para o sustento de Seu trabalho. Numerosas dádivas e ofertas foram divinamente especificadas. Sob o sistema judaico, o povo era ensinado a cultivar o espírito de liberalidade, tanto em sustentar a causa de Deus como em socorrer os necessitados. Para ocasiões especiais havia ofertas voluntárias. Na colheita e na vindima, as primícias dos frutos do campo - grãos, vinho e óleo - eram consagrados como oferta ao Senhor. Os respigos e os cantos do campo eram reservados para o pobre. As primícias da lã, quando o rebanho era tosquiado, do grão, quando era malhado o trigo, eram postos de parte para Deus. De igual forma, os primogênitos de todos os animais; e o preço de resgate era pago pelo filho primogênito. As primícias deviam ser apresentadas perante o Senhor no santuário, e eram então dedicadas ao uso dos sacerdotes.
    Por este sistema de beneficência, o Senhor procurava ensinar a Israel que em tudo devia Ele ser o primeiro. Assim era-lhes feito lembrar que Deus era o proprietário de seus campos, rebanhos de ovelhas e de gado; que era Ele quem enviava o sol e a chuva para que a seara se desenvolvesse e amadurecesse. Tudo que possuíam era dEle; eles eram apenas mordomos de Seus bens.
    Não é o propósito de Deus que os cristãos, cujos privilégios excedem em muito aos da nação judaica, dêem menos abundantemente do que deram eles. "A qualquer que muito for dado", declarou o Salvador, "muito se lhe pedirá." Luc. 12:48. A liberalidade requerida dos hebreus era-o em grande parte para beneficiar sua própria nação; hoje em dia a obra de Deus se estende por toda a Terra. Cristo tinha colocado nas mãos de Seus seguidores os tesouros do evangelho, e sobre eles colocou a responsabilidade de dar as alegres novas de salvação ao mundo. Nossas obrigações são muito maiores, seguramente, do que o foram as do antigo Israel.
    À medida que a obra de Deus se amplia, pedidos de auxílio aparecerão mais e mais freqüentemente. Para que esses pedidos possam ser atendidos, devem os cristãos acatar a ordem: "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa." Mal. 3:10. Se os professos cristãos levassem fielmente a Deus os seus dízimos e ofertas, o divino tesouro estaria repleto. Não haveria então ocasião para recorrer a quermesses, rifas ou reuniões de divertimento a fim de angariar fundos para a manutenção do evangelho.
    Os homens são tentados a usar seus bens em benefício próprio, na satisfação do apetite, no adorno pessoal ou no embelezamento de seus lares. Para estas coisas muitos membros da igreja não hesitam em despender livremente, e até extravagantemente. Mas quando solicitados a dar para o tesouro do Senhor, a fim de que se promova Sua obra na Terra, titubeiam. Talvez, sentindo que não podem escapar à conjuntura, dão uma importância tão insignificante que não raro gastam com coisas desnecessárias. Não manifestam nenhum amor real pelo serviço de Cristo, nenhum fervente interesse na salvação de almas. Não admira que a vida cristã de tais criaturas seja uma existência atrofiada e enfermiça!
    Aquele cujo coração se abrasa com o amor de Cristo considerará não apenas um dever, mas um prazer, ajudar no avançamento da mais elevada e santa obra cometida a homens - a obra de apresentar ao mundo as riquezas da bondade, misericórdia e verdade.
    É o espírito de cobiça que leva os homens a guardar para a satisfação do eu, o que por inteira justiça pertence a Deus, e este espírito é-Lhe tão aborrecível agora como quando, por intermédio do Seu profeta, severamente repreendeu Seu povo, dizendo: "Roubará o homem a Deus? Todavia vós Me roubais, e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação." Mal. 3:8 e 9.
    O espírito de liberalidade é o espírito do Céu. Este espírito encontra sua mais alta manifestação no sacrifício de Cristo sobre a cruz. Em nosso benefício o Pai deu Seu único Filho; e Cristo, tendo renunciado a tudo o que possuía, deu-Se a Si mesmo, para que o homem pudesse ser salvo. A cruz do Calvário deve ser um apelo à beneficência de cada seguidor de Cristo. O princípio aí ilustrado é dar, dar. "Aquele que diz que está nEle, também deve andar como Ele andou." I João 2:6.
    Por outro lado, o espírito de egoísmo é o espírito de Satanás. O princípio ilustrado na vida dos mundanos é receber, receber. Assim esperam eles conseguir felicidade e conforto, mas o fruto do que semeiam é miséria e morte.
    Não antes que Deus cesse de abençoar Seus filhos estarão eles livres da obrigação de Lhe devolver a porção que Ele reclama. Não apenas deverão eles devolver ao Senhor o que Lhe pertence, mas também levar ao Seu tesouro, como oferta de gratidão, um donativo liberal. Com o coração jubiloso deve dedicar ao Criador as primícias de sua generosidade - suas mais bem escolhidas posses, seu melhor e mais santo serviço. Assim alcançarão ricas bênçãos. Deus mesmo tornará sua alma como um jardim regado, cujas águas não faltem. E quando a última grande colheita estiver recolhida, os molhos que são habilitados a trazer ao Mestre serão a recompensa do uso abnegado dos talentos a eles entregues.
    Os mensageiros escolhidos de Deus, empenhados em árduo trabalho, jamais deveriam ser compelidos a entrar na luta a sua própria custa, sem o compreensivo e cordial auxílio de seus irmãos. É a parte dos membros da igreja repartir liberalmente com os que põem de lado seus afazeres seculares para que se possam dar a si mesmos ao ministério. Quando os ministros de Deus são encorajados, Sua causa avança grandemente. Quando, porém, por causa do egoísmo dos homens, seu justo sustento é retido, suas mãos se enfraquecem, e muitas vezes sua utilidade é seriamente prejudicada.
    O desprazer de Deus é despertado contra os que professam ser Seus seguidores, e no entanto permitem que consagrados obreiros padeçam necessidade, enquanto empenhados em ministério ativo. Essas criaturas egoístas serão chamadas a prestar contas, não apenas pelo abuso do dinheiro do seu Senhor, mas também pela depressão e angústia que sua conduta fez pesar sobre Seus fiéis servos. Os que são chamados para a obra do ministério, e ao chamado do dever renunciam a tudo e se empenham no serviço de Deus, devem receber por seus abnegados esforços salários suficientes para se manterem e a suas famílias.
    Nos diversos departamentos de atividades seculares, mentais e físicas, trabalhadores fiéis podem ganhar bons salários. Não é a obra de disseminar a verdade e de levar almas a Cristo de mais importância que qualquer atividade ordinária? E não são, os que fielmente se empenham nesta obra, com justiça merecedores de ampla remuneração? Por nossa estimativa do valor relativo de trabalho para o bem físico e o espiritual, mostramos nossa apreciação do celestial em contraste com o terreno.
    A fim de que haja fundos na tesouraria para a manutenção do ministério, e para atender aos pedidos de auxílio para empreendimentos missionários, é necessário que o povo de Deus dê alegre e liberalmente. Solene responsabilidade repousa sobre os pastores, qual seja a de expor perante as igrejas as necessidades da causa de Deus e ensiná-las a ser liberais. Quando isto é negligenciado, e as igrejas deixam de contribuir para as necessidades de outros, não somente a causa do Senhor sofre, mas é retirada a bênção que deveria vir sobre os crentes.
    Mesmo o mais pobre deve levar a Deus a sua oferta. Devem eles ser repartidores da graça de Cristo, mediante o negarem-se a si mesmos para ajudar aqueles cujas necessidades são mais prementes que a deles próprios. A dádiva do pobre, fruto da abnegação, sobe perante Deus como suave incenso. E cada ato de abnegado sacrifício fortalece o espírito de beneficência no coração do doador, aliando-o mais intimamente Àquele que era rico, e por amor a nós Se fez pobre, para que por Sua pobreza enriquecêssemos.
    O ato da viúva que deitou na arca duas pequenas moedas - tudo quanto possuía - é posto em realce para encorajamento dos que, lutando com a pobreza, ainda desejam com suas dádivas ajudar a causa de Deus. Cristo chamou a atenção dos discípulos para esta mulher, que dera "todo o seu sustento". Mar. 12:44. Ele considerou sua dádiva de maior valor que as grandes ofertas daqueles cujos óbolos não representavam abnegação. Deram de sua abundância uma pequena porção. Para dar a sua oferta a viúva se havia privado mesmo dos gêneros de primeira necessidade, confiando em Deus para o suprimento de suas necessidades para o dia de amanhã. A respeito dela, declarou o Salvador: "Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro." Mar. 12:43. Assim ensinou Ele que o valor da oferta é estimado, não pela quantidade, mas pela proporção em que é dada e pelos motivos que animaram o doador.
    O apóstolo Paulo, em seu ministério entre as igrejas, foi incansável em seus esforços para inspirar no coração dos novos conversos o desejo de fazer grandes coisas pela causa de Deus. Muitas vezes ele os exortava à liberalidade. Falando aos anciãos de Éfeso sobre suas anteriores atividades entre eles, disse: "Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber." Atos 20:35. "E digo isto", escreveu ele aos coríntios, "que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria." II Cor. 9:6 e 7.
    Quase todos os crentes da Macedônia, eram pobres em bens deste mundo, mas seu coração estava transbordando com o amor a Deus e Sua verdade, e alegremente deram para o sustento do evangelho. Quando as coletas gerais foram tiradas entre as igrejas gentílicas para socorro aos crentes judeus, a liberalidade dos conversos da Macedônia foi exaltada como um exemplo para as outras igrejas. Escrevendo aos crentes coríntios, o apóstolo chamou-lhes a atenção para "a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia; como em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade. Porque, segundo o seu poder... e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente, pedindo-nos com muitos rogos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos". II Cor. 8:1-4.
    A voluntariedade em sacrificar da parte dos crentes macedônios era conseqüência de sua inteira consagração. Movidos pelo Espírito de Deus, "se deram primeiramente ao Senhor" (II Cor. 8:5), daí estarem dispostos a dar voluntariamente de seus meios para o sustento do evangelho. Não era necessário constrangê-los para que dessem; antes se rejubilavam pelo privilégio de negarem a si mesmos até coisas necessárias a fim de suprir as necessidades de outros. Quando o apóstolo quis restringi-los, insistiram com ele para que aceitasse suas ofertas. Em sua simplicidade e integridade, e em seu amor pelos irmãos, renunciaram alegremente, e assim abundaram no fruto da beneficência.
    Quando Paulo enviou Tito a Corinto para fortalecer os crentes ali, instruiu-o a desenvolver a igreja na graça de dar; e em carta pessoal aos crentes ele acrescentou também seu próprio apelo. "Como, porém, em tudo, manifestai superabundância, tanto na fé", apelou ele, "e na palavra como no saber, e em todo cuidado, e em nosso amor para convosco, assim também abundeis nesta graça. Completai, agora, a obra começada, para que, assim como revelastes prontidão no querer, assim a leveis a termo, segundo as vossas posses. Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem." II Cor. 8:7, 11 e 12. "E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; ... para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência a qual faz que por nós se dêem graças a Deus." II Cor. 9:8-11.
    Abnegada liberalidade levou a primeira igreja a um sentimento de alegria; pois os crentes sabiam que seus esforços estavam ajudando a levar o evangelho aos que jaziam em trevas. Sua beneficência testificava que não haviam recebido a graça de Deus em vão. Que teria produzido tal liberalidade senão a santificação do Espírito? Aos olhos de crentes e incrédulos foi um milagre de graça.
    A prosperidade espiritual está intimamente ligada à liberalidade cristã. Os seguidores de Cristo devem regozijar-se pelo privilégio de revelar em sua vida a beneficência do seu Redentor. Dando ao Senhor, eles têm a certeza de que seu tesouro está indo em sua frente para as cortes celestiais. Querem os homens ter seus bens seguros? Coloquem-nos nas mãos que levam as marcas da crucifixão. Querem aproveitar seus rendimentos? Usem-nos para abençoar os necessitados e sofredores. Querem aumentar suas posses? Acatem a injunção divina: "Honra ao Senhor com a tua fazenda, e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus celeiros abundantemente, e transbordarão de mosto os teus lagares." Prov. 3:9 e 10. Procurem eles reter suas posses com propósitos egoístas, sê-lo-á para sua eterna perda. Dêem, porém seu tesouro a Deus, e desse momento em diante ele levará Sua inscrição. Fica selado com a Sua imutabilidade.
    Deus declara: "Bem-aventurados vós os que semeais sobre todas as águas." Isa. 32:20. Um contínuo repartir dos dons de Deus onde quer que a causa do Senhor ou as necessidades da humanidade requeiram nosso auxílio, não leva à pobreza. "Alguns há que espalham, e ainda se lhes acrescenta mais; e outros que retêm mais do que é justo, mas é para a sua perda." Prov. 11:24. O semeador multiplica a semente por deitá-la fora. Assim é com os que são fiéis em distribuir os dons de Deus. Repartindo, aumentam suas bênçãos. "Dai, e ser-vos-á dado", prometeu Deus; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço." Luc. 6:38.

MR n º 1085 - cristãos, como soldados, podem enfrentar dificuldades, e devem trabalhar juntos na Unidade

(Escrito para o Dr. JH Kellogg, em julho de 1886, de Basileia, Suíça.)

Oh, como minha alma deseja ver aqueles que estão conectados com as nossas casas editoras, nossas faculdades e instituições de saúde, fazer melhorias através do uso sábio de todos os poderes que o Senhor lhes deu. Cada faculdade pertence a Deus, e deve ser usado para a Sua glória. O mais digno do Mestre, o serviço mais eficiente que devemos tornar como servos. {14MR 26.1}

Aqueles que estejam relacionados com a obra de Deus para beneficiar a humanidade deve honrar a Deus, tornando-lhe o melhor que eles são capazes de fazer, meia vontade, trabalho egoísta Ele não aceita de forma alguma. Ele clama de cada um de nós todo poder que Ele tem nos colocado para exercício ativo, eles pode receber a força e a cultura. {14MR 26,2}

Nos tempos antigos, os homens não foram autorizados a colocar no altar de Deus, mutilados, amputados, e cegos, e Deus não está mais satisfeito com as pobres ofertas de hoje. Ele exige o melhor. Se oferecer a Deus o intelecto fraco e débil e movimentos mal treinados, faculdades entupidos e enfraquecidos por desuso, e, então, ser incapaz de fazer um bom serviço, Deus não pode estar satisfeito com tais ofertas. Os que trabalhavam para o Senhor, em serviço especial estavam bem treinados. Os homens escolhidos, devem ser aqueles que estão ligados com qualquer departamento do trabalho do Senhor. Exercem criteriosamente todas as faculdades, regozijando-se o uso vigoroso de todos os seus poderes. {14MR 26,3}

Deveríamos estudar como dar a Deus o serviço mais perfeito, sempre buscando atingir a perfeição. No dia de Deus, será visto que, enquanto muitos transportavam cargas pesadas de cuidado e pesada responsabilidade que têm cortado a sua utilidade e sua vida, este sacrifício era porque havia tantos que não estavam fazendo a obra que Deus havia deixado para que eles fizessem. Há tantos servos preguiçosos. Se tivessem educado e treinado seus poderes, eles poderiam ter provado serem servos de confiança, fiel porta-estandartes, e não haveria nenhuma pergunta sobre colocar a responsabilidade em cima deles. Esforço heróico e paciência é necessária para ser cultivada por cada filho e filha de Deus, que, quando posta em serviço ativo não vão desmaiar ou falhar. {14MR 27,1}

Ninguém pensaria em entrar em um exército em tempo de guerra na esperança de ter vontade e auto-indulgente e real prazer e tempo proveitoso. Eles sabem que as dificuldades e privações são os passivos, e enquanto a guerra durar eles vão ter alimentos grosseiros e muitas vezes poucas rações, longas marchas, cansaço durante o dia, suportando o calor do sol ardente, acampando à noite, ao ar livre , exposto a chuvas e geadas, enchentes congelantes, aventurar a saúde e a própria vida como como alvos para o inimigo. {14MR 27,2}

A vida cristã é comparada com a vida de um soldado, e não pode haver presente de subornos para tranqüilidade e auto-indulgência. A idéia de que os soldados cristãos irão ser dispensado dos conflitos, experimentando nenhuma prova, tendo todos os confortos temporais para desfrutar, e até mesmo os luxos da vida, é uma farsa. O conflito cristão é uma batalha e uma marcha, chamando para a resistência. Trabalho difícil tem que ser feito, e todos os que se alistam como soldados no exército de Cristo com essas falsas idéias de prazer e facilidade, e depois a experiência e provação, que muitas vezes se revela fatal para seu cristianismo. Deus não apresenta a recompensa para aqueles cuja vida inteira neste mundo tem sido de auto-indulgência e prazer. {14MR 27,3}

À tempo de homens e mulheres terem uma idéia real do que se espera de um verdadeiro soldado da cruz de Jesus. Aqueles que servem sob a bandeira ensangüentada do Príncipe Emanuel são esperados para fazer o trabalho difícil que todo poder imposto que Deus lhes deu. Eles terão provas dolorosas de suportar por causa de Cristo. Eles terão conflitos que dilaceram a alma. Mas se forem fiéis soldados irão dizer com Paulo: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente;Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas"[2 Coríntios. 4:17, 18]. {14MR 28,1}

Um exército desmoralizado seria se não aprendecem a obedecer a ordem do capitão. Cada soldado deve agir em concerto. União faz a força, sem união, os esforços são inúteis. Seja qual for excelentes qualidades de um soldado possa possuir, ele não pode ser um soldado, seguro econfiável, se ele afirma o direito de agir independentemente dos seus camaradas e companheiros. Esta ação independente não pode ser mantida no serviço de Cristo. {14MR 28,2}

Os soldados de Jesus Cristo devem se mover em conjunto, senão seria melhor que eles não fazessem nada. Porque, se um fala uma coisa e outro apresenta doutrinas contrárias aos seus companheiros de trabalho, há confusão, a discórdia, contenda e. Portanto, o apóstolo acusa que todos os que crêem em Cristo tem uma só mente, uma só fé, um julgamento, cada um movendo-se em concerto, influenciando uns aos outros beneficamente, porque ambos são obedientes à verdade preciosa da Palavra de Deus, ligado a um Salvador , a grande Fonte de luz e verdade. {14MR 29,1}

Espasmódica, os esforços desunidos dos professos cristãos são como uma extensão de cavalos, ao mesmo tempo forte e ativo, mas eles ainda não caminham juntos. Um tenta iniciar a carga, o outro resolve voltar no chicote e ambos não puxam, ao mesmo tempo. Deus queria que seus trabalhadores puxando juntos, não um puxando em uma direção e outro na direção oposta, todos esses esforços são piores do que ter perdido. {14MR 29,2}

Aqueles que preferem agir sozinhos não são bons soldados. Eles têm alguma desonestidade em seu caráter que precisa ser endireitado. Eles podem pensar consciente, mas não fazem as obras de Cristo. Eles não podem prestar serviço eficiente. Seu trabalho será de um personagem a desenhar à parte quando a oração de Cristo foi que seus discípulos fossem um como Ele era um com o Pai. {14MR 29,3}

Há aqueles que pensam que uma virtude para ser firme, definida e determinada em algumas idéias peculiares de seus próprios planos e idéias que os levam longe da unidade e concerto de ação. Eles levam um empreendimento de vontade própria de ser do cristão [personagem] formando, quando [na verdade] é nelas uma altoapreciação também de sua própria sabedoria. Eles não consideram que há uma possibilidade de estarem enganados na interpretação das Escrituras e de seu dever. {14MR 29,4}

Auto-controle é essencial para ser exercido por todos os cristãos se eles responderem à oração de Cristo. Ele não é um bom soldado que não irá apresentar o seu próprio julgamento e suas próprias idéias para preservar a unidade de ação. Temos um capitão nobre e cada soldado deve obedecer às ordens. A mansidão e humildade de Cristo sempre leva à unidade e, portanto, a força em ação conjunta .-- Carta 62, 1886, pp 3-6.

Ellen G. White Estate Washington, DC 16 ago 1984 {14MR 30,1}

MR No. 1085 - Christians, Like Soldiers, May Face Hardships, and Must Work Together in Unity
(Written to Dr. J. H. Kellogg, in July, 1886, from Basle, Switzerland.)
Oh, how my soul desires to see those who are connected with our publishing houses, our colleges, and health institutions making improvement through the wise use of every power the Lord has given them. Every faculty belongs to God, and is to be used to His glory. The worthier the Master, the more efficient service should we render as servants. {14MR 26.1}
Those who are connected with the work of God to benefit humanity should honor God by rendering to Him the best that they are capable of doing. Half-hearted, selfish work He does not accept at all. He claims of us that every power He has lent us shall be put to active exercise, that it may receive strength and culture. {14MR 26.2}
In ancient times men were not allowed to lay on God*"*s altar and maimed, the halt, the blind, and God is no better pleased with the poorest offerings today. He requires the best. If we offer to God weak and feeble intellect and ill-trained movements, faculties clogged and weakened by disuse, and then be unable to do good service, God cannot be pleased with such offerings. The workers for the Lord in special service were well trained, picked men; so should those be who are connected with any department of the Lord*"*s work. They exercise judiciously every faculty, rejoicing in the vigorous use of all their powers. {14MR 26.3}
We should study how to render to God the most perfect service by constantly seeking to reach perfection. In the day of God it will be seen that while many have carried heavy loads of care and weighty responsibility that have cut short their usefulness and their life, this sacrifice was because there were so many who were not doing the work which God had left for them to do. There are so many slothful servants. If they had educated and trained their powers, they could have proved themselves to be trustworthy servants, true standard bearers, and there would be no question about placing responsibility upon them. Heroic effort and patient endurance is necessary to be cultivated by every son and daughter of God, that when called into active service they will not faint or fail. {14MR 27.1}
No one would think of entering an army in time of war hoping to have ease and self-indulgence and a real pleasant and profitable time. They know that hardships and privations are the liabilities, and as long as the war lasts they will have coarse food and often short rations, long, weary marches by day, enduring the heat of the burning sun, camping out at night in the open air, exposed to drenching rains and chilling frosts; venturing health and life itself as they stand as targets for the enemy. {14MR 27.2}
The Christian life is compared to the life of a soldier, and there can be no bribes presented of ease and self-indulgence. The idea that Christian soldiers are to be excused from the conflicts, experiencing no trials, having all temporal comforts to enjoy, and even the luxuries of life, is a farce. The Christian conflict is a battle and a march, calling for endurance. Difficult work has to be done, and all who enlist as soldiers in Christ*"*s army with these false ideas of pleasantness and ease, and then experience the trials, it often proves fatal to their Christianity. God does not present the reward to those whose whole life in this world has been one of self-indulgence and pleasure. {14MR 27.3}
It is time that men and women have some true idea of what is expected of a true soldier of the cross of Jesus. Those who serve under the bloodstained banner of the Prince Emmanuel are expected to do difficult work which will tax every power God has given them. They will have painful trials to endure for Christ*"*s sake. They will have conflicts which rend the soul. But if they are faithful soldiers they will say with Paul, "Our light affliction, which is but for a moment, worketh for us a far more exceeding and eternal weight of glory; while we look not at the things which are seen, but at the things which are not seen: for the things which are seen are temporal, but the things which are not seen are eternal" [2 Cor. 4:17, 18]. {14MR 28.1}
An army would be demoralized if they did not learn to obey the order of the captain. Each soldier must act in concert. Union is strength; without union, efforts are meaningless. Whatever excellent qualities a soldier may possess, he cannot be a safe, trustworthy soldier if he claims a right to act independently of his fellow comrades. This independent action cannot be maintained in the service of Christ. {14MR 28.2}
The soldiers of Jesus Christ must move in concert, else it were better that they do nothing. For if one speaks one thing, and another presents ideas and doctrines contrary to his fellow laborers, there is confusion, discord, and strife. Therefore the apostle charges that all who believe on Christ be of one mind, one faith, one judgment, each moving in concert, influencing one another beneficially, because they are both obedient to the precious truth of the Word of God, attached to one Saviour, the great Source of light and truth. {14MR 29.1}
Spasmodic, disunited efforts of professed Christians are like a span of horses, both strong and active, but yet they do not pull together. One tries to start the load; the other settles back in the harness and both do not pull at the same time. God would have His workers pull together, not one pulling in one direction and another in [an] opposite direction, for all such efforts are worse than wasted. {14MR 29.2}
Those who prefer to act alone are not good soldiers. They have some crookedness in their character which needs to be straightened. They may think themselves conscientious, but they do not the works of Christ. They cannot render efficient service. Their work will be of a character to draw apart when Christ*"*s prayer was that His disciples might be one as He was one with the Father. {14MR 29.3}
There are those who think it a virtue to be firm, set, and determined in some peculiar ideas of their own plans and notions that lead them away from unity and concert of action. They take a firm-set will to be of Christian [character] forming, when [actually] it is in them a too highappreciation of their own wisdom. They do not consider that there is a possibility of their being deceived in the interpretation of Scripture and their duty. {14MR 29.4}
Self-restraint is essential to be exercised by every Christian if they answer the prayer of Christ. He is not a good soldier who will not submit his own judgment and his own ideas to preserve unity of action. We have a noble Captain and every soldier must obey orders. The meekness and lowliness of Christ always leads to unity and hence to strength in united action.--Letter 62, 1886, pp. 3-6.
Ellen G. White Estate Washington, D. C. August 16, 1984 {14MR 30.1}

 


     Paulo tinha grande desejo de alcançar Jerusalém antes da Páscoa, para que assim tivesse uma oportunidade de encontrar-se com os que vinham de todas as partes do mundo para assistir à festa. Acariciava sempre a esperança de servir, de algum modo, como instrumento na remoção dos preconceitos de seus patrícios incrédulos, a fim de que fossem levados a aceitar a preciosa luz do evangelho. Desejava também ir ter com a igreja de Jerusalém e levar-lhes os donativos que as igrejas gentílicas enviavam para os irmãos pobres da Judéia. E por essa visita esperava promover mais firme união entre os judeus conversos e os conversos gentios.
    Tendo completado seu trabalho em Corinto, determinou navegar diretamente para um dos portos na costa da Palestina. Haviam-se tomado todas as disposições e ele estava prestes a tomar o navio quando teve aviso de uma trama dos judeus para tirar-lhe a vida. Até então tinham sido frustrados todos os esforços dos adversários da fé para acabar com a obra do apóstolo.
     O êxito que alcançou a pregação do evangelho despertou de novo a ira dos judeus. Chegavam de cada canto informações da disseminação da nova doutrina, segundo a qual os judeus eram libertados da observância dos ritos da lei cerimonial, e os gentios eram admitidos a iguais privilégios com os judeus como filhos de Abraão. Paulo, em sua pregação em Corinto, apresentou os mesmos argumentos que expunha com tanta veemência em suas epístolas. Sua categórica afirmação: "Não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão" (Col. 3:11), foi considerada pelos inimigos como ousada blasfêmia, e decidiram que sua voz devia silenciar.
    Tendo sido avisado da conspiração, Paulo decidiu dar a volta pela Macedônia. Teve assim de renunciar ao plano de chegar a Jerusalém em tempo para as festividades da Páscoa, mas esperava lá estar para o Pentecoste.
    Na companhia de Paulo e Lucas estavam "Sópater, de Beréia, e dos de Tessalônica, Aristarco e Segundo, e Gaio de Derbe, e Timóteo, e dos da Ásia, Tíquico e Trófimo". Atos 20:4. Paulo trazia consigo grande soma de dinheiro das igrejas gentílicas, e pretendia depô-la nas mãos dos irmãos encarregados do trabalho na Judéia; e para esse fim combinou com várias igrejas contribuintes que representantes seus o acompanhassem a Jerusalém. Em Filipos Paulo demorou-se para celebrar a Páscoa. Só Lucas ficou com ele, partindo os demais membros da comitiva para Trôade, a fim de ali o esperarem. Os filipenses eram dentre os conversos do apóstolo os mais amorosos e sinceros, e durante os oito dias da festa ele desfrutou pacífica e feliz comunhão com eles.
    Embarcando em Filipos, Paulo e Lucas alcançaram os companheiros cinco dias mais tarde, em Trôade, e demoraram-se sete dias com os crentes naquele lugar.  Na última noite de sua estada ali os irmãos se ajuntaram "para partir o pão". O fato de que seu amado mestre ia partir, promoveu um ajuntamento maior que o de costume. Reuniram-se num "cenáculo" (Atos 20:7 e 8), no terceiro andar. Ali, no fervor de seu amor e solicitude por eles, o apóstolo pregou até à meia-noite.
    Numa das janelas abertas estava assentado um jovem por nome Êutico. Nessa perigosa posição adormeceu, e caiu ao solo. Num momento tudo era alarma e confusão. O jovem foi levantado morto, e muitos se acercaram dele com gritos e lamentações. Mas Paulo, passando por entre os irmãos atribulados, abraçou-o e fez uma fervorosa oração para que Deus restaurasse a vida ao morto. Sua petição foi atendida. Sobrepondo-se aos clamores e lamentações, ouviu-se a voz do apóstolo dizendo: "Não vos perturbeis, que a sua alma nele está." Com júbilo, os crentes voltaram a se reunir no cenáculo. Havendo participado da comunhão, Paulo "ainda lhes falou largamente até à alvorada". Atos 20:10 e 11.
    O navio em que Paulo e seus companheiros deviam prosseguir viagem estava prestes a partir e os irmãos apressaram-se a subir a bordo. O apóstolo, porém, preferiu tomar o caminho mais perto, por terra, entre Trôade e Assôs, encontrando-se com seus companheiros nesta cidade. Isto lhe deu um pouco de tempo para meditação e oração. As dificuldades e perigos relacionados com sua próxima visita a Jerusalém, a atitude da igreja ali para com ele e sua obra, bem como a condição das igrejas e o interesse da obra evangélica em outros campos, eram assuntos de ardente e solícito pensar; e ele aproveitou esta oportunidade especial para buscar de Deus força e guia.
    Enquanto os viajantes navegavam rumo ao sul, para Assôs, passaram pela cidade de Éfeso, que fora por tanto tempo cenário dos trabalhos do apóstolo. Paulo havia desejado muito visitar a igreja ali; pois tinha importante instrução e conselho a dar-lhes. Havendo, porém, ponderado, determinou apressar-se; pois desejava "estar, se lhe fosse possível, em Jerusalém no dia do Pentecoste". Atos 20:16. Chegando porém a Mileto, cerca de trinta milhas de Éfeso, soube que lhe seria possível comunicar-se com a igreja antes que o navio partisse. Enviou portanto uma mensagem imediatamente aos anciãos, pedindo para que viessem depressa a Mileto, para que pudesse vê-los antes de continuar a viagem.
    Em resposta a seu chamado vieram, e ele lhes dirigiu palavras ardentes e tocantes de admoestação e despedida. "Vós bem sabeis", disse ele, "desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, como em todo esse tempo me portei no meio de vós, servindo ao Senhor com toda a humildade, e com muitas lágrimas e tentações, que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram; como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas casas, testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo." Atos 20:18-21.
    Paulo sempre exaltara a lei divina. Ele havia mostrado que não há poder na lei para salvar os homens da penalidade da desobediência; que os pecadores precisam arrepender-se de seus pecados, e humilhar-se perante Deus, em cuja justa ira incorreram pela transgressão de Sua lei, e precisam também exercer fé no sangue de Cristo como o único meio de perdão. O Filho de Deus havia morrido como sacrifício por eles, e havia subido ao Céu para permanecer como seu Advogado perante o Pai. Mediante arrependimento e fé podiam ficar livres da condenação do pecado, e pela graça de Cristo ser capacitados daí por diante a render obediência à lei de Deus.
    "E agora", continuou Paulo, "eis que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer, senão o que o Espírito Santo de cidade em cidade me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações. Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu rosto." Atos 20:22-25.
    Paulo não tencionara dar esse testemunho, mas enquanto falava veio sobre ele o Espírito de inspiração, confirmando seus pressentimentos de que esse seria seu último encontro com os irmãos efésios."Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos, porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus." Atos 20:26 e 27. Nenhum temor de causar escândalo, nenhum desejo de amizade ou de aplausos, poderiam levar Paulo a reter as palavras que Deus lhe dera para instrução deles, advertência ou correção. Dos Seus servos hoje Deus requer destemor na pregação da Palavra e na exposição de seus preceitos. O ministro de Cristo não deve apresentar ao povo apenas as verdades mais agradáveis, retendo outras que lhes possam causar mágoa. Deve ele observar com profunda solicitude o desenvolvimento do caráter. Se vir que alguém no rebanho está acariciando o pecado, precisa como fiel pastor dar-lhe instrução da Palavra de Deus que se aplique ao caso. Permitisse-lhes ele prosseguirem confiadamente sem advertência, e seria responsabilizado por suas almas. O pastor que cumpre seu alto encargo deve dar a seu povo, fiel instrução sobre cada ponto da fé cristã, mostrando-lhes o que precisam ser e fazer para se apresentarem perfeitos no dia de Deus. Unicamente aquele que é um fiel ensinador da verdade poderá, ao fim de seu trabalho, dizer como Paulo: "Estou limpo do sangue de todos." Atos 20:26.
    "Olhai por vós", advertiu o apóstolo a seus irmãos, "e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que Ele resgatou com Seu próprio sangue." Atos 20:28. Se os ministros do evangelho mantiverem sempre em mente que estão tratando com a aquisição do sangue de Cristo, terão mais profundo senso da importância de seu trabalho. Devem ter cuidado de si e do rebanho. Seu próprio exemplo deve
ilustrar e fortalecer suas instruções. Como ensinadores do caminho da vida, não devem dar ocasião de ser blasfemada a verdade. Como representantes de Cristo, devem manter a honra de Seu nome. Mediante devoção, pureza de vida, pia conversação, devem provar-se dignos de sua alta vocação.
    Os perigos que assaltariam a igreja de Éfeso foram revelados ao apóstolo. "Eu sei isto", disse, "que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão ao rebanho; e que dentre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si." Atos 20:28-30. Paulo tremia pela igreja quando, olhando para o futuro, via os ataques que ela sofreria de inimigos externos e internos. Com solene fervor exortou seus irmãos a guardar vigilantes seu sagrado depósito. Como exemplo apresentou-lhes seu próprio infatigável trabalho entre eles: "Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós."
    "Agora pois, irmãos", continuou ele, "encomendo-vos a Deus e à palavra de Sua graça; a Ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados. De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestido." Alguns dos irmãos efésios eram ricos; mas Paulo jamais procurara tirar deles benefício pessoal. Não fazia parte de sua mensagem chamar a atenção para as suas próprias necessidades. "Para o que me era necessário a mim", declarou, "e aos que estavam comigo, estas mãos me serviram." Atos 20:31-34. Em meio a seus árduos labores e extensas jornadas pela causa de Cristo, ele fora capaz não apenas de suprir suas próprias necessidades, mas de poupar alguma coisa para o sustento dos seus companheiros de trabalho e ajuda aos pobres dignos. Isto ele conseguiu somente por incessante diligência e estrita economia. Bem podia ele apontar a seu próprio exemplo, quando disse: "Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.
    "E havendo dito isto pôs-se de joelhos, e orou com todos eles. E levantou-se um grande pranto entre todos, e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam, entristecendo-se muito, principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto. E acompanharam-no até ao navio." Atos 20:35-38.
    De Mileto os viajantes navegaram "caminho direito... a Cós, e no dia seguinte a Rodes, de onde" passaram "a Pátara", na praia sudoeste da Ásia Menor, onde
"achando um navio que ia para a Fenícia", embarcaram nele e partiram. Em Tiro, onde o navio foi descarregado, acharam uns poucos discípulos, com quem lhes foi permitido ficar sete dias. Pelo Espírito Santo foram esses discípulos advertidos dos perigos que aguardavam a Paulo em Jerusalém, e eles insistiram com ele, "que não subissem a Jerusalém". Atos 21:1-4. Mas o apóstolo não permitiu que o temor de provações e encarceramento o demovesse de seu propósito.
    Ao final da semana passada em Tiro, todos os irmãos, com suas esposas e filhos, foram com Paulo ao navio, e antes que ele embarcasse, ajoelharam na praia e oraram, ele por eles, e eles por ele. Prosseguindo sua jornada rumo ao sul, os viajantes chegaram a Cesaréia; "e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete" (Atos 21:8), ficaram com ele. Aqui Paulo passou uns poucos dias, pacíficos e felizes - os últimos da perfeita liberdade de que ele devia usufruir por muito tempo.
    Enquanto Paulo se demorava em Cesaréia, "chegou da Judéia um profeta, por nome Ágabo; e, vindo ter conosco", conta Lucas, "tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus em Jerusalém o varão de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios".
    "E, ouvindo nós isto", continua Lucas, "rogamos-lhes, tanto nós como os que eram daquele lugar, que não subisse a Jerusalém." Mas Paulo não se desviaria do caminho do dever. Seguiria a Cristo se necessário à prisão e à morte. "Que fazeis vós chorando e magoando-me o coração?" exclamou; "porque eu estou pronto, não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus." Vendo que lhe causavam sofrimento sem mudar o propósito, os irmãos cessaram de insistir, dizendo apenas: "Faça-se a vontade do Senhor." Atos 21:10-14.
    Logo chegou o momento em que a breve estada em Cesaréia teve fim, e acompanhado por alguns dos irmãos, Paulo e sua comitiva partiram para Jerusalém, com o coração profundamente anuviado pelo pressentimento de males vindouros.
    Nunca dantes havia o apóstolo se acercado de Jerusalém com o coração tão entristecido. Sabia que encontraria poucos amigos e muitos inimigos. Estava-se aproximando da cidade que tinha rejeitado e matado o Filho de Deus, e sobre a qual agora pairavam as ameaças da ira divina. Relembrando quão amargos tinham sido seus próprios preconceitos contra os seguidores de Cristo, sentia a mais profunda piedade por seus iludidos compatriotas. E no entanto, quão pouco podia ele esperar ser capaz de fazer para ajudá-los! A mesma ira cega que inflamara outrora o seu coração, ardia agora com inaudito poder no coração de toda uma nação contra ele.
    E ele não poderia contar com a simpatia e o auxílio de seus próprios irmãos na fé. Os inconvertidos judeus que lhe haviam tão de perto seguido os passos, não haviam demorado em fazer circular em Jerusalém os boatos mais desfavoráveis sobre ele e sua obra, tanto por carta como pessoalmente; e alguns, mesmo dentre os apóstolos e anciãos, tinham tomado esses relatos por verdadeiros, nada fazendo para contradizê-los, e não manifestando desejo de se harmonizarem com ele.
    Se bem que assaltado de desânimo, o apóstolo não se desesperara. Confiava em que a voz que lhe falara ao próprio coração ainda falaria ao de seus concidadãos, e que o Mestre a quem os condiscípulos amavam e serviam uniria ainda seus corações ao dele na obra do evangelho.

 

    Por mais de três anos Éfeso foi o centro do trabalho de Paulo. Uma florescente igreja foi estabelecida ali, e desta cidade o evangelho se espalhou através da província da Ásia, tanto entre judeus como entre gentios.
    O apóstolo estava agora planejando por algum tempo outra viagem missionária. Ele "propôs, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma". Em harmonia com este plano, enviou "à Macedônia dois daqueles que o serviam, Timóteo e Erasto"; mas sentindo que a causa em Éfeso ainda requeria sua presença, decidiu permanecer até depois do Pentecoste. Logo, entretanto, ocorreu um acontecimento que apressou sua partida. Atos 19:21 e 22.
    Uma vez ao ano, eram realizadas em Éfeso cerimônias especiais em honra da deusa Diana. Estas atraíam grande número de pessoas de todas as partes da
província. Durante este período, festividades eram conduzidas com a maior pompa e esplendor.
    Esta ocasião de gala era um tempo probante para os que haviam recentemente aceito a fé. O grupo de crentes que se reunia na escola de Tirano estava em evidente desarmonia com o coro festivo, e o ridículo, zombaria e insulto eram-lhes livremente atirados. Os trabalhos de Paulo haviam dado ao culto pagão um golpe de morte, em conseqüência do que houve uma sensível queda na assistência à festividade nacional, e no entusiasmo dos adoradores. A influência dos seus ensinos alcançava muito além dos atuais conversos à fé. Muitos que não tinham abraçado abertamente as novas doutrinas, tornaram-se esclarecidos bastante para perder toda a confiança em seus deuses pagãos.
    Existia ainda outra causa de descontentamento. Um extenso e lucrativo negócio havia-se desenvolvido em Éfeso pela manufatura e venda de nichos e imagens modelados segundo o templo e a imagem de Diana. Os que estavam empenhados nesta indústria sentiram que seus lucros estavam diminuindo, e foram unânimes em atribuir a malsinada mudança aos trabalhos de Paulo.
    Demétrio, fabricante de nichos de prata, convocando uma reunião dos artífices, disse-lhes: "Varões, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade; e bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram a ser destruída." Estas palavras despertaram as paixões do povo. "Encheram-se de ira e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios." Atos 19:25-28.
    A notícia desse discurso circulou rapidamente. "Encheu-se de confusão toda a cidade." Saíram em busca de Paulo mas o apóstolo não foi encontrado. Seus irmãos, recebendo um aviso de perigo, tinham-no levado à pressa para fora do lugar. Anjos de Deus haviam sido enviados para guardar o apóstolo; ainda não havia chegado seu tempo para sofrer a morte de mártir.
    Não conseguindo encontrar o alvo de sua ira, a turba apanhou "a Gaio e a Aristarco, macedônios, companheiros de Paulo na viagem"; e com eles "unânimes correram ao teatro". Atos 19:29.
    O local do esconderijo de Paulo não era muito distante, e ele logo soube do perigo de seus amados irmãos. Esquecendo sua própria segurança, quis ir imediatamente ao teatro para falar aos amotinados. Mas "não lho permitiram os discípulos". Gaio e Aristarco não eram a presa que o povo buscava; nenhum dano sério os ameaçava. Mas se a face do apóstolo, pálida e desfigurada pelo cuidado, fosse vista, despertaria desde logo as piores paixões da turba, e não haveria a menor possibilidade humana de salvação para a sua vida.
    Paulo estava ainda ansioso para defender a verdade perante a multidão; mas foi afinal dissuadido por uma mensagem de advertência vinda do teatro. "Alguns dos principais da Ásia, que eram seus amigos, lhe rogaram que não se apresentasse no teatro." Atos 19:31.
    O tumulto no teatro crescia continuamente. "Uns... clamavam de uma maneira, outros de outra, porque o ajuntamento era confuso; e os mais deles não sabiam por que causa se tinham ajuntado." Atos 19:32. O fato de Paulo e alguns de seus companheiros serem de ascendência judaica tornou os judeus ansiosos para mostrar que não eram simpatizantes com ele e sua obra. Impeliram, pois para diante a um de seu próprio número, para expor o assunto diante do povo. O orador escolhido foi Alexandre, artífice que trabalhava em cobre, a quem Paulo mais tarde se referiu como lhe tendo feito muito mal. II Tim. 4:14. Alexandre era um homem de considerável habilidade, e usava todas as suas energias no sentido de dirigir a ira do povo exclusivamente contra Paulo e seus companheiros. Mas a turba, vendo que Alexandre era judeu, empurrou-o para o lado, "clamando por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios". Atos 19:34.
    Afinal, de pura exaustão, cessaram, e houve um silêncio momentâneo. Então o escrivão da cidade chamou a atenção da turba, e em função de seu ofício conseguiu que o ouvissem. Enfrentou o povo em seu próprio terreno, mostrando-lhes que não havia causa para aquele tumulto. Apelou-lhes à razão: "Varões efésios", disse, "qual é o homem que não sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e da imagem que desceu de Júpiter?Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos aplaqueis e nada façais temerariamente; porque estes homens, que aqui trouxestes, nem são sacrílegos nem blasfemam da vossa deusa. Mas, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma coisa contra alguém, há audiências e há procônsules; que se acusem uns aos outros; e, se alguma outra coisa demandais, averiguar-se-á em legítimo ajuntamento. Na verdade até corremos perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sedição, não havendo causa alguma com que possamos justificar este concurso. E, tendo dito isto, despediu o ajuntamento." Atos 19:35-41.
    Em suas declarações Demétrio afirmou: "Há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito." Essas palavras revelam a real causa do tumulto de Éfeso, e também de grande parte da perseguição que acompanhava os apóstolos em sua obra. Demétrio e seus colegas de ofício viram que o negócio de fabricação de imagens estava em perigo por causa do ensino e disseminação do evangelho. A renda dos sacerdotes pagãos e dos artífices estava em risco; esta a razão por que se levantaram em acérrima oposição contra Paulo.
    A atitude do escrivão e de outros que exerciam funções honrosas na cidade, tinha apresentado Paulo perante o povo como inocente de qualquer ato ilegal. Este foi outro dos triunfos do cristianismo sobre o erro e a superstição. Deus havia despertado um grande magistrado para defender Seu apóstolo e fazer calar a turba. O coração de Paulo se encheu de gratidão a Deus por ter sido a sua vida preservada, e porque o cristianismo não fora desonrado pelo tumulto de Éfeso.
    "E, depois que cessou o alvoroço, Paulo chamou a si os discípulos e, abraçando-os, saiu para a Macedônia. E, havendo andado por aquelas terras, e exortando-os com muitas palavras, veio à Grécia." Atos 20:1. Nesta viagem ele se fez acompanhar por dois fiéis irmãos efésios, Tíquico e Trófimo.
    O trabalho de Paulo em Éfeso estava concluído. Seu ministério ali tinha sido uma época de incessante labor, de muitas provas e profunda angústia. Havia ensinado o povo em público e de casa em casa, instruindo-os e advertindo-os com muitas lágrimas. Enfrentara contínua oposição da parte dos judeus, que não perdiam oportunidade de acirrar contra ele os sentimentos populares.
    E enquanto assim batalhava contra a oposição, impelindo para a frente com incansável zelo a obra do evangelho, e cuidando dos interesses de uma igreja ainda jovem na fé, Paulo levava sobre sua alma o pesado fardo de todas as igrejas.
    Novas de apostasia em alguma das igrejas por ele estabelecidas causaram-lhe profunda tristeza. Temeu que seus esforços em benefício deles tivesse sido em vão. Muitas noites de insônia havia ele passado em oração e fervorosa meditação, quando ouvira que medidas estavam sendo tomadas para contrariar sua obra.    Quando tinha oportunidade e quando as condições o requeriam, escrevia às igrejas reprovando, aconselhando, admoestando e encorajando. Nessas cartas o apóstolo não se detém sobre suas próprias lutas, embora houvesse vislumbres ocasionais de seus labores e sofrimentos na causa de Cristo. Açoites e prisões, frio, fome e sede, perigos por terra e por mar, nas cidades e no deserto, da parte de seus patrícios, dos pagãos e dos falsos irmãos - tudo isto ele sofreu por causa do evangelho. Foi "difamado", "injuriado", feito "a escória de todos", "angustiado", "perseguido", "em tudo atribulado", "a toda a hora em perigo, sempre entregue à morte por amor de Jesus". I Cor. 4:13.
    Em meio a constantes tempestades de oposição, o clamor de inimigos e a deserção de amigos, o destemido apóstolo quase perdia o ânimo. Mas lançando um olhar retrospectivo ao Calvário, com novo ardor prosseguia disseminando o conhecimento do Crucificado. Ele estava palmilhando a trilha sangrenta que Cristo tinha palmilhado antes dele. Procurava não abandonar a luta até que pudesse depor a armadura aos pés de seu Redentor.
   

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